Quatro homens foram este sábado formalmente acusados pela violação e homicídio de uma rapariga indiana de origem Dalit na Índia, um caso que está a gerar novos protestos em massa por todo o país, reacendendo o debate sobre a violência sexual e de género endémica no país, noticia o "Guardian" este sábado.
O caso remonta a setembro, em Hathras, uma pequena terra do estado de Uttar Pradesh. Uma rapariga de 19 anos pertencente ao estrato mais baixo do sistema de castas indiano foi atacada por quatro homens mais velhos, que a arrastaram para um campo, a violaram e tentaram sufocar com o seu próprio lenço.
A jovem acabaria por ser descoberta pela família a sangrar, abandonada no campo, quase inconsciente e com a espinha dorsal partida. Foi transportada para o hospital local e mais tarde transferida para um hospital do Governo em Nova Deli, onde acabou por sucumbir aos ferimentos duas semanas depois do ataque.
O lençol encontrado pelas autoridades permitiu confirmar que a jovem foi violada por quatro homens e já foi introduzido como prova no processo contra os suspeitos, já indicados pelo crime.
A vítima era Dalit, pertencente à casta mais baixa, anteriormente conhecida como "os intocáveis", sendo que os quatro homens que a atacaram pertencem a uma casta superior. Crê-se que 10 mulheres Dalit são violadas a cada dia na Índia.
Em novembro, um estudo divulgado pelas organizações Equality Now e Swabhiman Society apontava que a violência sexual contra mulheres Dalit não só acontece em elevadas taxas como a maioria dos casos acaba sem quaisquer condenações.
"Os corpos das mulheres Dalit está a ser usado para afirmar a supremacia de castas e manter as mulheres 'no seu lugar'", denunciou na altura Jacqui Hunt, diretora da Equality Now para a Eurásia. "Os perpetradores de castas dominantes sabem que muito provavelmente escapam impunes, porque cada ramo e cada escalão do sistema pesa a favor deles, e esta impunidade para violações cria um ambiente que propicia mais abusos."
Inicialmente, o caso da jovem de 19 anos violada e morta em Hathras recebeu pouca atenção mediática. Contudo, a polícia de Uttar Pradesh acabaria por ser pressionada e acusada de não ter investigado o caso apropriadamente dada a casta a que a jovem pertencia. A revolta dos locais acabou por espalhar-se um pouco por toda a Índia nas últimas semanas.
Vários agentes da polícia viriam a ser suspensos por "negligência e supervisão insuficiente" no caso. O caso acabaria por chegar ao Governo do Uttar Pradesh, com o ministro-chefe Yogi Adityanath, de extrema-direita, a alegar publicamente que a acusação de violação é uma conspiração internacional fabricada.
A par destas acusações, a polícia do estado é ainda acusada de ter cremado o corpo da jovem durante a noite, contra os desejos da família, e impedindo o acesso ao local a legisladores da oposição e jornalistas.