A acusação de Jack Teixeira avança que o militar terá informação confidencial do Pentágono que "ultrapassa largamente" o que tem sido anunciado em público. Nesse sentido, a Procuradoria-Geral dos EUA defendeu em tribunal, esta quarta-feira, que Jack Teixeira continuasse detido preventivamente.
De acordo com o processo avançado pelos procuradores, citado pelo The New York Times, a libertação do lusodescendente - alegado autor dos "Discord Leaks" - seria uma ameaça à segurança do país, uma vez que apresenta um "sério risco de fuga".
"Quaisquer promessas do arguido de ficar em casa ou de se abster de agravar os danos que já causou não valem mais do que as suas promessas quebradas em proteger informação confidencial sobre a defesa nacional."
A acusação crê também que Jack Teixeira ainda tenha na sua posse centenas de documentos confidenciais - com informação sobre a guerra na Ucrânia, por exemplo -, aos quais "sabe aceder", avança a CNN.
"E, com base nas suas capacidades especializadas nas áreas da tecnologia, presumivelmente, saberá como disseminar essa informação sem que seja apanhado no imediato". Esses dados, se vazados, terão um "valor tremendo para Estados hostis" aos EUA, aponta o processo.
Por outro lado, a Procuradoria-Geral norte-americana também fala em tentativas deliberadas e continuadas de "destruição das provas" dos crimes de que é formalmente acusado. Segundo a CNN, Jack Teixeira terá apagado mensagens e até destruído aparelhos eletrónicos.
"Não só o arguido é acusado de ter traído o juramento e o seu país, mas, assim que o caso começou a ser revelado, também tomou uma série de passos na obstrução da habilidade do Governo para tomar total conhecimento daquilo que obteve e do universo de pessoal não autorizado com quem partilhou esses conteúdos", pode-se ler na acusação.
No mesmo processo, a procuradoria descreve ainda o momento das buscas à casa de Jack Teixeira em North Dighton, no Estado de Massachusetts. As autoridades dizem ter encontrado "um tablet, um computador portátil e uma consola Xbox, aparentemente destruídos" num contentor do lixo próximo da sua residência.
O suspeito também terá registado um novo endereço de email e pediu aos amigos para "apagarem todas as mesagens" e não contarem "porra nenhuma" se "alguém aparecer a investigar". Segundo o The New York Times, citando um testemunho dado às autoridades, Jack Teixeira terá ainda "atirado o telemóvel pessoal da janela do carro enquanto conduzia".
Historial de tentações violentas e racistas
De acordo com o mesmo processo judicial avançado pela Procuradoria-Geral dos EUA, o militar da Guarda Nacional da Força Aérea do Massachusetts demonstra uma predisposição para "ameaças racistas" e de violência.
O The New York Times revela que os procuradores questionam o estado mental de Jack Teixeira, referindo que o arguido participava "regularmente em discussões sobre violência e homicídio" na plataforma social online Discord, onde publicava informação sensível do Pentágono.
Segundo a CNN, os procuradores apontam ainda para vários dos comentários que o alegado autor dos "Discord Leaks" tecia nas redes sociais, onde confessava querer "matar uma 'porrada' de pessoas", de modo a "abater os mentalmente fracos".
Jack Teixeira também terá pesquisado regularmente pelos mass shootings de Las Vegas, Mandalay Bay, Buffalo Tops e Uvalde, além de Ruby Ridge - um cerco de 11 dias das autoridades a Randy Weaver, no Idaho, por se recusar a comparecer em tribunal por posse de armas ilegais e que resultou na morte do seu cão, da sua mulher e de um US Marshal.
De acordo com o mesmo jornal nova-iorquino, a acusação menciona ainda que o militar chegou a ser suspenso da escola secundária, em 2018, depois de comentários sobre o eventual uso de cocktails Molotov e outras armas.
Por outro lado, o mesmo processo descreve que o suspeito tinha um autêntico "arsenal" no seu quarto, incluindo pistolas, espingardas, caçadeiras, uma espingarda de assalto do tipo AK, munições, máscaras de gás, equipamento tático e silenciadores.
Comandantes da unidade de Jack Teixeira suspensos
Em comunicado oficial, a Força Aérea dos EUA anunciou a suspensão de dois dos responsáveis pela unidade de Jack Teixeira em Cape Cod, no Massachusetts: o comandante do 102.º Esquadrão de Apoio à Inteligência e o comandante do destacamento para a supervisão do apoio administrativo.
A CNN avança que ambos os responsáveis também perderam acesso aos sistemas e às informações confidenciais. A medida é temporária e está dependente da investigação da Inspeção-Geral da Força Aérea norte-americana sobre a fuga de documentação do Pentágono.
Na semana passada, a Força Aérea também retirou a missão de inteligência que havia sido atribuída à unidade de Massachusetts, na sequência da detenção de Jack Teixeira. A tarefa foi, assim, encarregue a outras organizações dentro da Força Aérea.
Esta quinta-feira, o alegado suspeito dos "Discord Leaks" será ouvido em tribunal e saberá se aguarda julgamento em liberdade condicional ou em prisão preventiva.