Com raízes em Lviv, mas presente em 12 países, a SoftServe é uma de várias empresas ucranianas na Web Summit, em Lisboa, que não esquecem a terra natal em tempos de guerra.
Desde que a guerra começou, foram angariados mais de 10 milhões de euros em ajuda humanitária através da sua fundação, a Open Eyes, criada em 2014 após a invasão russa à região da Crimeia.
Mariia Kucherenko, diretora de Responsabilidade Social Corporativa da empresa que emprega mais de 13 mil pessoas, a maioria delas na Ucrânia e países vizinhos, explica à Renascença que, apesar dos trabalhadores terem fugido da guerra, o desejo de ajudar falou mais alto.
“Quando a guerra começou, os nossos colaboradores queriam apoiar a Ucrânia com aquilo que sabiam melhor: criar soluções digitais. Por isso, tivemos muitos projetos com o Ministério da Defesa e o Ministério da Transformação Digital da Ucrânia e outros que estiveram envolvidos na entrega de comida e apoio humanitário”, diz.
A missão já vinha de antes, com a criação de hospitais pediátricos, e continuou este ano.
“Quando a agressão russa começou, a 24 de fevereiro de 2022, já tínhamos equipas preparadas e sabíamos como fazer o trabalho humanitário. Na primeira semana, o nosso fundo usou o centro de desenvolvimento na Polónia e o de Lviv para o transporte de ajuda humanitária a partir da Europa e dos EUA, desde medicamentos a comida”, aponta Mariia.
Em julho foi lançado um novo programa dentro da fundação, com a compra de 32 ambulâncias para a linha da frente da guerra, a que se junta uma plataforma “pró bono” da empresa lançada em 2021, a Open Tech, que neste momento associa mais de 400 voluntários a 25 projetos de organizações ou autoridades.
A startup que ajuda na educação das crianças deslocadas na Ucrânia
Além dos oito oradores na WebSummit deste ano, a cimeira tecnológica tem um Pavilhão da Ucrânia e ainda 24 startups ucranianas a mostrarem os seus serviços, oito por dia.
Esta sexta-feira, um dos projetos em desenvolvimento a mostrar-se é a Keiki, que cria produto educacionais para crianças e que, durante a guerra na Ucrânia, ajudou mais de 2,5 milhões de crianças ucranianas deslocadas das suas casas a retomarem a sua educação.
“Demos subscrições a utilizadores ucranianos para ajudar crianças a acalmarem as suas preocupações, por estarem afastadas das suas rotinas educacionais. Queríamos fazer algo simpático, embora tenhamos perdido milhões de subscrições da Ucrânia”, explica à Renascença Daryna Tarasiuk, a diretora de marketing.
Fundada em 2019, em Kiev, a empresa tem como principal mercado os EUA, mas tem o plano “ambicioso” de se tornar o “maior ecossistema de educação do mundo”.
E após o início do conflito na Ucrânia, a ajuda na educação de crianças entre os dois e os cinco anos foi obrigatória, numa altura em que chegaram a existir oito milhões de ucranianos deslocados da sua própria casa.
“As crianças foram as primeiras a deixar as suas casas, o local onde nasceram, onde vão às creches, por isso queríamos dar-lhes uma oportunidade de continuarem a aprender. E isso ajuda. Continuamos a receber milhares de mensagens de utilizadores satisfeitos e de crianças a brincarem os nossos jogos e a dizer que as ajudou a terem algum tipo de distração e a aprenderem algo, também”, explica Daryna.
Transformar folhas caídas das árvores em folhas de papel
Também presente esta sexta-feira junto ao Pavilhão da Ucrânia, a Releaf Paper mostra-se como a primeira empresa “produtora de papel através de folhas que caem das árvores”, transformando-as em sacos de papel ou folhas de papel com tecnologia e produção na Ucrânia.
Um dos fundadores, Alexander Sobolenko, explicou à Renascença como funciona este simples processo: “Usamos as folhas que caem das árvores, que são um grande problema nas cidades. As cidades europeias gastam pelo menos 40 euros, algumas 50 ou 60 euros, por cada quantidade de folhas que vão para o lixo. Estamos a dar-lhes a oportunidade para se livrarem das folhas, sem custos, usando a sua matéria prima e tornando as cidades mais limpas.”
Na Web Summit, a Releaf Paper procura investimento para construir a primeira fábrica na União Europeia, depois de um impacto direto da guerra na sua produção.
“Fomos obrigados a sair de Kiev durante dois meses, quando se tornou mais perigoso ficar lá. Regressámos em abril e temos continuado o nosso trabalho. A grande diferença é que tivemos de começar a olhar para o mercado europeu, porque perdemos os nossos clientes locais”, conta Alexander, com a empresa a utilizar um armazém na Eslováquia para enviar os produtos para outros países da União Europeia.
Sobre a forte presença da Ucrânia na Web Summit deste ano, o empreendedor diz que o país tem um “espírito empreendedor” e que muitas empresas ucranianas “ganharam muito tempo livre devido às limitações causadas pela guerra”.
“A maioria dos ucranianos, em vez de desespero, preferiram focar-se na criatividade. Acumularam energia e paixão para fazer coisas muito boas. Vemos muitos ucranianos aqui e muitas startups ucranianas. É um bom sinal, significa que o sistema ucraniano está a crescer rapidamente, da maneira mais eficiente possível”, diz.