"Assistimos em Portugal a um inverno demográfico que tem consequências imprevisíveis e que o país não está a encarar de uma forma correta", alertou o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, na edição deste mês do “Conversas na Bolsa”, no Porto.
António Sousa Pereira lembra que, em 2017, "tivemos uma redução de cerca de 15 mil alunos no 12.º ano" e, este ano letivo, "tivemos novamente uma redução de quase cinco mil alunos no secundário".
Convidado do mês de junho das “Conversas na Bolsa”, o reitor identifica o problema da demografia como um dos desafios da sociedade portuguesa, a que se junta a questão de vivermos numa sociedade global.
Sugere por isso que se enfrente o "problema da redução do número de potenciais candidatos à frequência do ensino universitário" e, por outro lado, que se encontrem formas de combater "o mundo global em que aparecem novos ‘players’ no mercado e que começam a ser competitivos no universo das universidades, como são os casos da China e da Índia".
Sousa Pereira afirma que "isto implica que as Universidades evoluam no sentido de ser competitivas neste mercado de forma a atraírem os estudantes que precisam".
Para o reitor da Universidade do Porto, "nós não temos hoje em dia qualquer capacidade de manter no nosso país os mais empreendedores", pois "não conseguimos competir com a Europa Central, com a Europa do Norte" e, portanto, "os melhores que se formam nas nossas universidades - aqueles que tem maior capacidade empreendedora, aqueles que no fundo eram os ideais para ficar no nosso país para promover o desenvolvimento do país - rapidamente vão para a Holanda, para a Alemanha, para a Bélgica". Neste contexto, Sousa Pereira diz que não podemos ter ilusões, porque "não temos condições económicas para lhes oferecer as condições que eles vão obter lá fora".
Então o que podemos fazer? Para o reitor "podemos fazer muito através do recrutamento de cérebros que venham para o nosso país para estudar", dado que "é uma ilusão pensar que o nosso país pode entrar na senda da inovação e do crescimento sustentado na inovação, sem ter gente altamente qualificada" e para "termos essa gente temos de ter alvos muito precisos", lembra Sousa Pereira.
Foi por isso que a surgiu a "aposta da Universidade do Porto em trabalhar em rede com outras universidades europeias", pois uma "universidade que fique sozinha está condenada a ser uma universidade regional".
O reitor lembra que a Universidade do Porto, "em particular no último ano, afirmou a sua vontade em estar no mercado internacional", porque "quer estar nos rankings e atrair talento para a universidade e para a região" e, dessa forma, "contribuir para o desenvolvimento económico da região".
Para o conseguir a universidade atuou em várias frentes, e segundo Sousa Pereira, "a primeira foi no recrutamento de estudantes internacionais".
Neste momento, a Universidade do Porto tem cerca de 5.600 alunos estrangeiros, provenientes de 90 países, o que "significa que, atualmente, 18% dos estudantes da Universidade do Porto são estrangeiros". A média das universidades portuguesas é de 11%.
Mas isso é pouco, no entender do reitor, pelo que "a universidade tem investido na investigação de nível internacional".
Um dos objetivos é "tenta criar parcerias em que a Universidade do Porto aparece em redes transnacionais", em que faz " parte de um consórcio internacional que tem como objetivo de um aluno da Universidade do Porto faz parte desse consórcio". A ideia é tornar possível que "dentro de dez anos 50 dos alunos do consórcio circulem efetivamente nas universidades do consórcio".
“Universidade tem de fazer pessoas de banda larga”
O reitor da Universidade do Porto diz que "um jovem tem que sair da universidade e tem que saber aprender" porque "ele vai ter de aprender ao longo da vida, e aprender competências"; e a universidade "não pode ter a pretensão de lhes ensinar coisas".
Sousa Pereira sustenta que "a universidade tem de fazer pessoas de banda larga, com cabeça arrumada a saber pensar" e depois os estudantes "vão ter que perder uma outra ilusão que é ilusão de trabalhar naquilo em que se formaram".
O catedrático alerta para os desafios que se colocam à "Universidade no Mundo Global" e defende a necessidade da Universidade do Porto tudo fazer para "ser um player internacional" para conseguir "notoriedade internacional".
Sousa Pereira avisa também para a necessidade de se apostar no "diálogo entre ciências que tradicionalmente não falavam entre si", pois em sua opinião "o futuro não está nas ciências puras". Acredita que "as coisas melhoram quando pessoas muito diferentes começam a conversar umas com as outras".
Sousa Pereira não se mostra adepto das fusões nas faculdades, sugerindo antes que " passem a trabalhar juntas". A Universidade do Porto é constituída por 14 faculdades e 49 institutos de investigação.
Associação Comercial do Porto faz balanço positivo
O presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) garante que “este primeiro meio ano de Conversas surge de uma forma notável”. Nuno Botelho afirma que as Conversas na Bolsa “são um evento que veio para ficar” e destaca o facto de ter sido possível trazer ao Palácio da Bolsa “diferentes assuntos, diferentes convidados, mas também diferentes assistências”.
O presidente da ACP diz que tem sido possível “abordar temas absolutamente essenciais para a nossa sociedade, para a cidade e para a nossa região”.
Esta sexta-feira concluiu-se a 19.ª iniciativa, mas fica a garantia de Nuno Botelho de que “iremos regressar em setembro e todos os meses com um convidado diferente para a abordagem dos diferentes problemas que temos”.