Em massa para Sevilha? Apelo de Ferro Rodrigues "é tudo o que não deve ser feito"
25-06-2021 - 17:54
 • Pedro Mesquita , com redação

Em declarações à Renascença, Adalberto Campos Fernandes lamenta as declarações do presidente da Assembleia da República do ponto de vista da saúde pública. Ex-ministro da Saúde defende mudanças na matriz de risco para não matar a economia.

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O apelo a uma deslocação massiva a Sevilha para a apoiar a seleção, feito pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, “é incompreensível” em tempo de pandemia e tudo o que não deve ser feito do ponto de vista da saúde pública, afirma à Renascença o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes.

“Do ponto de vista político e institucional, não faço nenhum comentário. Do ponto de vista da saúde pública e do interesse público, acho que, de facto, é incompreensível”, lamenta o especialista em Saúde Pública.

“Acho que é incompreensível, porque é tudo aquilo ao contrário daquilo que nós devemos fazer. A política não é um exercício lúdico nem de afirmação pessoal sem consequências. A política e os políticos respondem perante os cidadãos. Não foi um bom momento”, sublinha.

Ferro Rodrigues começou por apelar, na quarta-feira, a uma presença massiva de portugueses em Sevilha, para o jogo com a Bélgica. Depois de uma onda de críticas, esta sexta-feira voltou ao tema e desejou um bom fim de semana a todos os deputados, “os que puderem em Sevilha”.


Nestas declarações à Renascença, Adalberto Campos Fernandes distingue as declarações de Ferro Rodrigues das posições manifestadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que disse que com ele não haveria novo recuo no desconfinamento e estado de emergência.

“São posições substantivamente diferentes. Eu tenho apoiado e considerado que o Presidente da República, apesar dessa afirmação que terá sido pior entendida, tem procurado introduzir uma alteração na narrativa”, afirma o antigo ministro da Saúde.

Adalberto Campos Fernandes concorda com o Presidente da República, por exemplo, na necessidade de alterar os critérios da matriz de risco Covid-19.


“O Presidente tem referido que a matriz de risco não faz sentido como está, porque está a prejudicar a economia e o país. Concordo em absoluto e concorda muita gente que se tem pronunciado do ponto de vista técnico e científico”, sublinha o especialista em Saúde Pública.

Adalberto Campos Fernandes defende que a matriz de risco deveria incluir dados como a vacinação, internamentos e o número de óbitos provocados pela Covid-19.

“Isso pode prejudicar o país. Não tendo a matriz em conta a vacinação, os internamentos e os óbitos, está a partir apenas de dois indicadores base que são utilizados internacionalmente – o Rt e a incidência – está a prejudicar o país do ponto de vista da economia. Pior do que isso, está a gerar nas pessoas uma certa dúvida, hesitação, cansaço e desconforto”, afirma.

O antigo ministro da Saúde não tem dúvidas de que a matriz vai ser alterada, só não sabe quando, mas quando mais depressa acontecer, menos danos haverá para a economia e o “risco muito grande de o verão ser muito complicado em termos da recuperação”.