A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considera hipócrita que haja surpresa quanto à tragédia resultante do incêndio numa casa sobrelotada na Mouraria, em Lisboa, pedindo que todos os que lucram com a exploração de trabalhadores migrantes sejam responsabilizados.
Após uma visita ao Hospital de Ovar, distrito de Aveiro, no âmbito das jornadas parlamentares do BE, Catarina Martins foi questionada pelos jornalistas sobre o incêndio na noite de sábado num prédio no bairro da Mouraria que matou duas pessoas e fez 14 feridos.
"Só está surpreendido quem quiser estar surpreendido, só não percebe o problema quem não quiser perceber. Nós já alertámos para esta questão há muitos anos e, por exemplo quando tivemos a pandemia não foi só em Odemira que ficaram patentes as questões de habitação da população migrante, foi também em Lisboa, no centro de Lisboa", criticou, apontando para a sobrelotação das habitações e a exploração a que estas pessoas são sujeitas.
Para a líder do BE, esta é "uma tragédia terrível" e "é preciso responder a estas pessoas e responsabilizar todas as pessoas que na verdade lucram neste país pela exploração de trabalhadores migrantes, seja pela sua exploração laboral, seja pela forma como eles ficam alojados seja até pela forma de ficarem sujeitos a redes de tráfico de seres humanos".
"A surpresa neste momento parece uma surpresa hipócrita. É preciso é responsabilização", enfatizou.
Considerando que "há também Odemira mesmo no coração de Lisboa", para Catarina Martins é urgente um "levantamento exaustivo do que está a acontecer em determinadas zonas de Lisboa", defendendo que a câmara "tem responsabilidades de agir rapidamente levantando a situação e tendo a certeza que todas as pessoas estão em condições de segurança".
"Eu lembro que faleceram trabalhadores migrantes porque não foram capazes de sair de uma casa num incêndio porque a casa estava tão sobrelotada que as pessoas não conseguiam sequer passar. Isto é uma verdadeira tragédia, isto é de uma violência atroz", lamentou.
A líder do BE afirmou que "depois da pandemia toda a gente ficou chocada" com situações como a de Odemira, mas "depois, na verdade, não houve atuação".
"Há forças políticas que acham normal fazer de conta que há em Portugal cidadãos de primeira ou cidadãos de segunda ou que há trabalhadores que nos são uteis para criar riqueza, mas que depois podemos descartar os seus direitos. O Bloco de Esquerda não está desse lado, como sabe", afirmou.
"Nós defendemos que todas as pessoas no mundo sejam bem tratadas e sejam tratadas com dignidade e um país como Portugal, em que não há nenhuma família que não conheça quem emigrou, sabe como precisamos de tratar com humanidade e dignidade todas as pessoas, como queremos ser tratados em todo o mundo devemos também tratar as pessoas do resto do mundo", respondeu, quando questionada sobre as declarações do presidente do PSD, Luís Montenegro.
Ao abordar questões relacionadas com a imigração, no seguimento do incêndio de sábado, Luís Montenegro também "lamentou profundamente" que o PS e o Governo "não tivessem aproveitado" o impulso do PSD e não se tivessem colocado ao seu lado na promoção de um programa transversal e universal.
Um programa que, prosseguiu, permitiria "sabermos quem é que precisamos em Portugal, quem é que nós queremos em Portugal e para podermos acolher e integrar esses colaboradores do nosso desenvolvimento".