“A situação económica na Síria está realmente péssima, há gente já a passar fome, sobretudo nas grandes vilas e nas cidades, pois a guerra destruiu muitos postos de trabalho e muitas estruturas no país”. O relato é feito à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) pela Irmã Maria Lúcia Ferreira, que pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia.
Para muitas famílias, a sobrevivência no dia-a-dia é algo de dramático. A Irmã Myri, como é conhecida, dá o exemplo de uma família que vive na vila de Qara.
“São cinco pessoas, só o pai é que trabalha, só ele é que tem salário, a mãe não trabalha. Se compram arroz não podem comprar vegetais, e se compram vegetais, não podem comprar o resto… E se formos falar da compra de roupa, ou de qualquer outra coisa para a casa, isso então [já] não é possível, porque cada peça, uns sapatos, por exemplo, custam um quarto do salário ou metade mesmo… Isto também para não falar de azeite ou de óleo para fritar… as famílias, praticamente, só podem comprar um litro por mês…”, alerta.
Segundo a religiosa, que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, a população empobrecida vive praticamente sem eletricidade e agora vai ter de enfrentar os duros dias de Inverno que se avizinham também sem acesso a combustíveis.
“Este ano, as famílias vão muito provavelmente passar frio pois comprar o mazut [óleo para o aquecimento], que se utiliza habitualmente, ou lenha, tornou-se extremamente caro. Não sei, não sei o que se vai passar… E a eletricidade é quase inexistente!”, assinala.
No sentido de ajuda a população, a fundação pontifícia encomendou, para a Campanha de Natal, algumas peças de artesanato bordadas em lã por mulheres cristãs da vila de Qara, onde está situado o Mosteiro de São Tiago Mutilado. Iniciativas como estas “são uma bênção”, diz a religiosa portuguesa pedindo, se possível, novas encomendas.
“Foi muito bem-vinda esta encomenda e espero que haja outras e encorajo-vos a comprar os artigos da Fundação AIS, pois isso ajuda muitas pessoas a ter esperança”, diz.
O empobrecimento das populações na Síria é consequência das sanções económicas impostas pelos Estados Unidos e União Europeia ao regime de Bashar al-Assad, da desvalorização constante da moeda local, e ainda da Covid-19 que deixou o país bastante fragilizado.