Ao telefone, na tribuna do congresso ou em conversas pessoais nos corredores e nos bastidores do centro de exposições de Aveiro, numa luta quase congressista a congressista, os principais candidatos a presidente do CDS tentam garantir votos para as suas moções que lhes permitam garantir a liderança do partido.
Será melhor João Almeida porque é o único que é deputado? Ou Francisco Rodrigues dos Santos porque consegue ser mobilizador e levantar um congresso em palmas e gritos de “CDS! CDS!”? Ou Filipe Lobo d’Ávila, coerente e consistente com quatro anos de oposição à estratégia de Assunção Cristas e o único que parece capaz de fazer pontes com todos?
Estes e outros argumentos vão desfilando pelos discursos e pelas conversas do congresso do CDS numa tarde fria, num pavilhão cheio de correntes de ar, mas onde cerca de mil congressistas mostram como o CDS é um partido que, mesmo nos seus piores momentos, mesmo quando parece moribundo, consegue dar mostras de uma vivacidade e de um dinamismo que tantas vezes parece faltar a outros.
Francisco Rodrigues dos Santos – que neste congresso passou de “Chicão” a “o Francisco” – parecia ter o congresso ganho logo na primeira intervenção. Congregou aplausos como nenhum outro e passou a tarde a distribuir abraços por congressistas.
João Almeida tenta descolar da imagem de candidato da continuidade, mas, uma a uma, as principais caras do CDS dos últimos anos vão-lhe declarando o apoio.
Cecília Meireles e Mota Soares conseguem entusiasmar o congresso e arrancar mais palmas do que o candidato conseguiu, mostrando que o conclave está mais dividido do que parecia antes de almoço.
Os congressistas mostram que gostam de Cecília Meireles, a “formiguinha trabalhadora” que Portas lançou, que foi vice-presidente de Cristas e que agora é líder parlamentar. Cecília, que foi cabeça de lista no Porto com Francisco Rodrigues dos Santos a número dois (só ela foi eleita) anuncia que colocará o cargo à disposição de quem for eleito líder. Agradece “de coração” a campanha que fez com “o Francisco”, mas anuncia o apoio a João Almeida.
Luís Pedro Mota Soares, o “LP”, que terá pensado em concorrer, mas não concorre, mostra que ser ex-líder da JP ainda rende e garante que não há um problema de identidade no partido. “O CDS sabe muito bem o que é”, afirma, defendendo que “este congresso não pode servir para discutir quem é mais liberal ou democrata-cristão novo”. “Somos a direita dos valores, mas também da tolerância e da inclusão”, afirma numa intervenção em que tenta mostrar que o partido não está tão dividido quanto pode parecer.
Nuno Melo e Telmo Correia, que têm uma moção em conjunto, também apoiam João Almeida. Telmo Correia manifestou o seu apoio logo na apresentação da moção, Nuno Melo no encerramento da defesa das moções dirá que não a levam a votos porque apoiam o único candidato que é deputado. Recorde-se que, na sucessão de Portas, um dos argumentos que Melo usou para não concorrer com Cristas foi o facto de não estar no Parlamento nacional.
Nos bastidores e nos corredores, figuras como Diogo Feio e Adolfo Mesquita Nunes tentam congregar apoios para João Almeida. Lembram que, como secretário-geral do partido, já enfrentou tempos financeiramente difíceis, quase tão maus como os que viverá agora; que como deputado é o único que tem capacidade de palco permanente na comunicação social e pode debater cara a cara com António Costa e Rui Rio com frequência. Mas sabem que a vitoria é difícil, que provavelmente só será possível se João Almeida e Filipe Lobo d’Ávila juntarem forças, mas Filipe disse, claramente, que leva a sua moção até ao fim.
Mais discretos, menos sonantes, os apoiantes de Lobo d’Ávila lembram como teve razão antes do tempo, como mostrou desprendimento ao deixar o lugar de deputado. Um dos congressistas que vai ao palco diz que só esta candidatura é capaz de unir o partido “em harmonia”.
Luís Queiró, o presidente do Congresso, vai tentando manter a disciplina. “30 segundos”, avisa quando o congressista se aproxima do limite de três minutos. Seguem-se, ronda após ronda, os defensores das moções. “Amanhã cantaremos o hino nacional todos unidos”, diz no palco a congressista Filomena, da distrital de Lisboa. A ver vamos.