Na quarta-feira, a Reserva Federal (banco central dos EUA) subiu três quartos de ponto a sua taxa de juro. E provavelmente em setembro haverá nova subida. A Reserva Federal (Fed) tardou em aumentar os juros, por isso tem agora que ser mais agressiva. Situação em que também se encontra o Banco Central Europeu.
Irá o combate à inflação provocar uma recessão económica nos EUA? Tecnicamente, a economia americana já entrou em recessão, depois dos primeiros dois trimestres deste ano registarem um PIB a descer. Mas será uma recessão profunda?
Tudo indica que os responsáveis da Fed aceitam uma breve e pouco profunda recessão, se esse for o preço de dominarem a inflação. Subir juros é travar a economia, muito ou pouco, dependendo da maior ou menor agressividade da política monetária restritiva.
Em junho de 1981 a inflação nos EUA atingiu 20%. Perante um tal surto inflacionista, Paul Volcker, então governador da Fed, subiu os juros até 21,5%, provocando uma séria recessão, mas travando a alta geral dos preços. Seguiram-se décadas de inflação muito baixa.
É este o dilema permanente dos banqueiros centrais. Quanto ao BCE, esse dilema também se coloca quando for chamado a ajudar países do euro alvos de forte especulação. Claro que comprar no mercado dívida de países em dificuldade, com os juros dessa sua dívida em níveis proibitivos, contraria até certo ponto a política monetária restritiva prosseguida.
Daí que os críticos de uma intervenção do BCE para aliviar a alta dos juros de um país vítima de especulação falem em contradição, ou mesmo em “missão impossível”. Ora a contradição entre travar a inflação e evitar uma recessão existe sempre. No caso da prevista intervenção do BCE para aliviar países do euro, comprando dívida no mercado para moderar os juros dessa dívida, a contradição é relativamente limitada, porque se trata, por hipótese, apenas de um ou de poucos países.
Tudo depende da capacidade de equilíbrio dos banqueiros centrais entre objetivos contraditórios, que existem sempre.