A Associação Mutualista Montepio Geral, dona do banco com o mesmo nome, apresentava em 2015 capital próprio negativo. Um buraco de 107 milhões de euros que, segundo o jornal “Público”, levou a auditora KPMG a pedir à associação medidas para restabelecer esse capital.
Essas medidas vão ser discutidas esta terça-feira, na reunião do Conselho Geral da Associação Mutualista. Em cima da mesa estarão, segundo o “Jornal de Negócios”, quatro iniciativas possíveis, com vista a evitar a injecção de mais dinheiro no banco por parte dos mutualistas e já acordadas com o Banco de Portugal.
Assim, para reforçar a sua solidez, o Montepio terá de alienar imóveis: nos primeiros nove meses de 2016, conseguiu 99 milhões de euros. Outra medida é vender o crédito malparado, que até Setembro do ano passado rendeu 380 milhões. Há também que reduzir o risco das operações em Angola, com o Finibanco Angola e em Moçambique e com o Banco Terra. E terá ainda de passar a sociedade anónima, em estatuto que permitirá mais margem de manobra.
Em cima da mesa, além da auditoria da KPMG, poderá estar um relatório do Banco de Portugal relativo a 2016, divulgado na semana passada pelo semanário “Expresso” e que indica que o Montepio apresenta um perfil de risco de nível elevado, com exposições estratégicas que não garantem uma gestão sólida e uma consistente degradação da qualidade da carteira de clientes.
O processo deverá estar concluído em Setembro.
Mas como é que o Montepio chegou até aqui?
O Montepio, supervisionado pelo Banco de Portugal, financia-se junto da Associação Mutualista, que é fiscalizada pelo Ministério da Segurança Social. Os mais de 600 mil mutualistas que são convidados a subscrever produtos financeiros mutualistas, cujas aplicações regressavam ao banco sob a forma de capital.
Com activos de 3,7 mil milhões, a exposição da Associação Mutualista às empresas do grupo rondará os 87%. De resto, a situação levou o Banco de Portugal a identificar vários riscos e a aconselhar a adopção de medidas.
Além de financiar o banco Montepio, as poupanças dos mutualistas terão também servido para resolver problemas da crise financeira de 2008.
No total, e segundo contas do jornal “Público”, entre 2011 e 2015, o grupo mutualista encaixou mais de mil milhões de perdas consolidadas. E pela primeira vez nos seus 175 anos de história, o Montepio encerrou o ano em terreno negativo, com prejuízos de quase 400 milhões de euros.
Um dado adicional a todo este processo é que o actual presidente da associação e antigo presidente do banco, Tomás Correia é, segundo o “Expresso”, arguido num caso relacionado “com o financiamento concedido pelo Montepio Geral e BES a um fundo para aquisição de terrenos”.
Segundo o semanário, António Tomás Correia é suspeito de ter recebido 1,5 milhões de euros do construtor José Guilherme, relacionados com um negócio imobiliário.
Por seu lado, em entrevista publicada esta quinta-feira no jornal “Público”, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, disse que o Montepio Geral "está estabilizado e tem uma administração profissional", defendendo maior partilha de informação num novo modelo de supervisão.