Brexit. "Mantenham a porta aberta para quando o Reino Unido se der conta deste erro"
31-01-2020 - 14:18
 • Vasco Gandra, correspondente em Bruxelas

Eleita pela primeira vez para o Parlamento Europeu em maio, a britânica Ellie Chowns abandona a instituição esta sexta-feira, no dia em que o Reino Unido sai oficialmente da UE. "É um dia que lamento mesmo muito", diz em entrevista à Renascença. "A Europa tem sido o bode expiatório e uma desculpa conveniente", diz em tom crítico sobre quem defende o Brexit.

A ecologista britânica Ellie Chowns foi eleita pela primeira vez para o Parlamento Europeu em maio passado, mas despede-se esta semana da instituição e da União Europeia.

Em entrevista à Renascença, considera o dia de hoje, sexta-feira de Brexit, "muito triste" e acusa os partidários da saída de utilizarem a Europa como "bode expiatório" para os problemas do país.

Aos portugueses e restantes europeus que permanecem na UE, pede que "mantenham a luz acesa" na esperança de um regresso e "a porta aberta ao Reino Unido, quando o nosso país eventualmente se der conta deste caminho errado".

O que significa para si este 31 de janeiro de 2020?

Penso que o dia do Brexit é muito triste para o meu país, é o dia em que viramos as costas à União Europeia, que tem sido uma força tão positiva para a paz, prosperidade e sustentabilidade em todos os nossos países. É um dia que lamento mesmo muito.

O Reino Unido continua muito dividido sobre o Brexit?

Sim, muito dividido, cada vez mais, por causa do Brexit. É como uma loucura. A Europa representa apenas 1% do Orçamento do Governo mas tem ocupado 99,9% do debate político nos últimos anos.

Na minha opinião, a Europa tem sido o bode expiatório das nossas forças políticas nacionais, os conservadores e os Brexiteers [defensores do Brexit], que a utilizam como uma desculpa conveniente para distrair as atenções dos problemas que temos hoje, internamente no nosso sistema político, e à forma como partilhamos os recursos no nosso país.

Nunca defendi que a União Europeia é perfeita. Os Verdes fazem campanha há décadas para reformar a União Europeia, para dar mais poderes ao Parlamento Europeu, para reforçar a transparência e combater a corrupção, e tivemos sucesso. É um esforço contínuo. Mas o que se passa no Reino Unido é que uma pequena parte do espectro político usa a Europa como bode expiatório dos problemas que temos, criando esta divisão na nossa sociedade, que vai levar anos a ultrapassar.

Acha que um dia a História dará razão àqueles que, como Os Verdes, defendem a permanência na UE?

Sim, absolutamente. Penso que estamos do lado certo da História. De facto, a História já hoje nos está a demonstrar que os Verdes estão há muito no lado certo, em muitas questões. A crise climática por exemplo. Temos andado a falar disso há décadas e finalmente outros partidos do espectro político estão a pegar no tema.

Vemos que os Verdes estão absolutamente do lado certo da História em termos do nosso compromisso em relação ao internacionalismo, à abertura e ao diálogo, à busca de pontos comuns e de resolver os problemas desta forma. É disso também que se trata no Parlamento Europeu.

Penso que os Verdes no Reino Unido estão do lado certo da História no posicionamento em relação à Europa. E poderá levar um tempo para isto se perceber na política britânica, mas eventualmente provar-se-á que tínhamos razão. Mas mais importante é voltarmos a perceber que o nosso futuro como país está na Europa.

Qual é a sua mensagem para os portugueses que apreciam o Reino Unido, estão desapontados e não querem que deixe a UE?

Dir-lhes-ia para manterem uma luz acesa por nós. Fizemos uma ação aqui nas escadarias do Parlamento Europeu com luzes e velas para dizer aos nossos amigos na Europa para manterem a luz acesa. Mantenham a luz da esperança de que vamos continuar ligados e de que, eventualmente, regressaremos à Europa. Mantenham a luz do internacionalismo, da abertura e diálogo, do empenho em trabalhar juntos pelo bem comum, e todas estas coisas a que o meu país vira agora as costas com o Brexit.

Precisamos que os nossos amigos na Europa continuem a acreditar nestes ideais. E também que mantenham a porta aberta ao Reino Unido, para quando o nosso país se der eventualmente conta deste caminho errado.