Oposição pede à Justiça que investigue Bolsonaro por ataque às eleições em encontro com embaixadores
19-07-2022 - 19:49
 • Lusa

Há também descrição sobre os outros alegados crimes que terão sido praticados pelo Presidente brasileiro nessa reunião com diplomatas, segundo os deputados da oposição.

Parlamentares de oposição ao Governo brasileiro pediram esta terça-feira que o Supremo Tribunal Federal (STF) investigue o Presidente do país, Jair Bolsonaro, após uma reunião com embaixadores estrangeiros na qual este atacou, sem apresentar provas, o sistema eleitoral.

Na queixa apresentada ao STF, os parlamentares afirmam que Bolsonaro terá cometido crime contra o Estado democrático, improbidade administrativa, propaganda eleitoral antecipada e abuso dos poderes político e económico.

O deputado federal Alencar Santana, do Partido dos Trabalhadores (PT), informou num vídeo divulgado nas redes sociais que deu entrada com a queixa pedindo a investigação contra o chefe de Estado brasileiro na qualidade de líder da minoria.

"Entramos no STF contra o Presidente, uma notícia crime, pelas barbaridades, pelas violências e pelos ataques que ele fez esta segunda-feira numa reunião com embaixadores em que colocou em causa o sistema eleitoral do país", afirmou Santana.

A queixa, publicada na íntegra pelo parlamentar, alega que "o Presidente da República voltou a questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro, de uma forma ainda mais agressiva e chocante, o que expõe seriamente a imagem do Brasil no cenário internacional, significando grave ameaça ao Estado democrático de Direito, pois afronta a soberania popular a depender do possível resultado do pleito de 2022".

"O cargo de Presidente da República não pode ser usado para subverter e atacar a ordem democrática, criar caos e desestabilizar instituições", acrescentou.

Há também descrição sobre os outros alegados crimes que terão sido praticados pelo Presidente brasileiro nessa reunião com diplomatas, segundo os deputados da oposição.

Na segunda-feira, Bolsonaro reuniu dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, para expressar suas dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrónicas usadas desde 1996 em eleições no país sem nenhuma comprovação de fraude.

O Presidente brasileiro tentou fazer com que os embaixadores de uma dezena de países, incluindo Luís Faro Ramos, de Portugal, vissem alegados riscos para a democracia que poderiam surgir nas próximas eleições do Brasil em outubro, nas quais ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como favorito.

Bolsonaro criticou duramente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e acusou os seus integrantes de conspirarem para favorecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais.

O Presidente brasileiro também desqualificou o sistema de votação eletrónica, amparado por supostas evidências de irregularidades nas eleições de 2014 e 2018, já investigadas e afastadas tanto pela Justiça quanto pela Polícia Federal.

A convocação dos embaixadores gerou uma enorme onda de críticas a Bolsonaro, tanto na oposição quanto na Justiça Eleitoral e no Parlamento, que defendeu as instituições brasileiras face ao que passou a ser considerado um "ataque à democracia".

O Presidente brasileiro já é alvo de uma investigação no STF pela sua dura campanha contra as urnas eletrónicas, lançada em meados do ano passado, quando todas as sondagens começaram a apontar Lula da Silva como o claro favorito para as próximas eleições.

Segundo a oposição, essa campanha, na qual conta com o apoio de alguns setores das Forças Armadas e de grupos de extrema-direita, pode esconder a suposta intenção de questionar os resultados das eleições em caso de derrota.