A equipa médica envolvida no tratamento das gémeas no Santa Maria já terá sido ouvida pela Inspeção Geral da Saúde. De acordo com o jornal Expresso, que avança a notícia, pediatras e neuropediatras terão estado, esta semana, na IGAS para explicarem as circunstâncias em que foi feito o tratamento.
Os especialistas tiveram de explicar como foi feita a admissão das bebés, a avaliação clínica, os critérios e etapas clínicas e legais até à dispensa do tratamento, com recurso a um dos medicamentos mais caros do mundo, cerca de dois milhões euros por doente.
Um dos ouvidos terá sido o diretor de Neuropediatria do Santa Maria, que em entrevista à TVI diz que o diretor clínico do hospital será a chave do caso das gémeas.
“Ele é que sabe tudo. Ele é a pessoa chave, porque ele é que
sabe tudo, porque ele é o pivô entre o ministério ou entre o doutor Rebelo de
Sousa - pai - e o doutor Rebelo de Sousa - filho. Ele é quem recebeu a mensagem
e que a transmite à minha diretora, e que a minha diretora marca a consulta”,
explica.
Nesta entrevista à TVI, o diretor de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria diz que já entregou à Inspeção-Geral de Atividades em Saúde os emails trocados com o Presidente da República.
“À IGAS entreguei os emails que troquei com o professor Rebelo de Sousa, entreguei os emails que troquei com o doutor Luís Pinheiro, dois ou três, entreguei a célebre carta que desapareceu”, adianta.
O médico disse ainda que “há muito tempo que desaparecem alguns emails”.
“Ele [diretor clínico do Santa Maria] pode estar descansado que eu não vou divulgar nenhum e-mail, exceto se houver mentiras”, completa.
Já Lacerda Sales admite, afinal, não se lembrar se solicitou uma consulta para as gémeas no Santa Maria. Após ter recusado qualquer intervenção, agora, em resposta por escrito à SIC, o antigo secretário de Estado da Saúde diz não poder negar algo de que não se lembra.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já estará na posse de um documento enviado por uma secretária de Lacerda Sales a pedir a marcação da consulta. O antigo governante diz-se surpreendido e promete solicitar à IGAS toda a documentação do caso.
Em causa está uma reportagem da TVI segundo a qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo – para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.
Segundo a TVI, há suspeitas de que isso tenha acontecido por influência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já negou qualquer interferência no caso.
Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que a correspondência sobre este caso começou em 21 de outubro de 2019 com um email que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, lhe enviou, sublinhando ter dado um despacho “neutral e igual a que deu em ‘n’ casos”.
Acrescentou não ter havido “intervenção do Presidente da República pelo facto de ser filho ou não ser filho”, com a troca de informação junto da Presidência a terminar dez dias depois, em 31 de outubro.
“O que se passou a seguir não sei, para isso é que há a investigação da PGR. E espero, como disse há dias, que seja cabal, para se perceber o que se passou desde o momento em que saiu de Belém”, afirmou.
O caso está também a ser analisado pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e é objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.