Cerca de 1,1 milhão de crianças palestinianas que vivem na Faixa de Gaza podem morrer à fome ou por doenças, alertou hoje a organização não-governamental (ONG) Save the Children.
A ONG indicou que todas as crianças na Faixa de Gaza enfrentam uma possível morte por fome ou doenças devido à impossibilidade de enviar ajuda humanitária com segurança na região desde que começou a ofensiva militar israelita no enclave, em retaliação pelos ataques do grupo islamita Hamas em 07 de outubro em Israel.
Uma trabalhadora humanitária da ONG, que está na cidade de Rafah (sul), relatou que os seus familiares que estão no norte da Faixa de Gaza adotaram medidas desesperadas para sobreviver.
"O meu marido disse-me que as pessoas recorrem ao consumo de alimentos para pássaros, animais e folhas de árvores por desespero", afirmou a trabalhadora humanitária.
"Foram obrigados a procurar restos de comida (em todos os lugares). Recentemente, (o marido da funcionária) encontrou restos de comida na casa da sua irmã, que já haviam sido mordidos por ratos, mas lavou-os e comeu-os mesmo assim, porque não havia literalmente mais nada para comer. Ele diz que não morrerá por causa das bombas, mas pela falta de alimentos", afirmou a funcionária da ONG.
Neste sentido, a Save the Children sublinhou que o risco de fome continuará a aumentar enquanto Israel continuar a impedir a entrada de ajuda, incluindo alimentos, água e produtos de higiéne.
A ONG acrescentou que, entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro, mais de 50% dos pedidos para trabalhos de ajuda humanitária e avaliação em áreas do norte de Gaza foram negados pelas autoridades israelitas.
Por esta razão, o diretor da ONG nos Territórios Palestinianos Ocupados, Jason Lee, afirmou que "há uma fome em massa, de um povo inteiro".
"Como é que alguém pode viver assim? Depois do imenso número de vítimas mortais nesta guerra, mais de 28 mil pessoas, 70% destas mulheres e crianças, a fome está a fazer que crianças e famílias morram em câmara lenta", lamentou Lee.
"A ajuda humanitária básica foi fornecida aos poucos ou negada pelas autoridades israelitas, e os serviços básicos foram reduzidos pelos combates contínuos, disse Lee, afirmando que "as condições para fornecer ajuda humanitária às crianças de Gaza não estão a ser atendidas, como também estão a piorar.
Por fim, argumentou que "a única forma de acabar com isso, de manter vivas as crianças e as famílias, é um cessar-fogo imediato e definitivo e o aumento imediato da ajuda humanitária irrestrita. "Sem tudo isto, é impossível uma resposta significativa em Gaza e as crianças continuarão a morrer", alertou Lee.
Neste contexto, o Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou na terça-feira uma pausa na entrega de ajuda alimentar no norte da Faixa de Gaza, alegando razões de segurança, apenas dois dias após o reinício das operações desta agência da ONU.
O PAM alegou que os seus comboios foram atacados por "grupos de pessoas famintas", incluindo tentativas dessas pessoas de embarcarem nos camiões, e afirmou que outra das entregas "enfrentou total caos e violência devido ao colapso da ordem civil".
O PAM, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertaram na segunda-feira que a desnutrição aguda entre crianças e mulheres grávidas e lactantes em Gaza está a aumentar acentuadamente - com uma situação especialmente grave no norte -, o que está prestes a causar uma "explosão de mortes" no enclave palestiniano.