A Santa Sé publicou esta quinta-feira uma nota sobre o “Caminho Sinodal” na Alemanha, destacando que o mesmo não tem autoridade para decidir sobre matérias de governo ou doutrina, nas comunidades católicas.
“Para proteger a liberdade do povo de Deus e o exercício do ministério episcopal, parece necessário precisar que o ‘Caminho Sinodal’ na Alemanha não tem o poder de obrigar os bispos e os fiéis a adotar novas formas de governo e novas disposições da doutrina e da moral”, refere o documento, divulgado pelo Vaticano.
O documento aborda o processo de consulta, debate e deliberação, iniciado em 2019, nas comunidades católicas alemãs, sublinhando que “não seria lícito implementar nas dioceses novas estruturas oficiais ou doutrinas, antes de um acordo concertado ao nível da Igreja universal”.
Para a Santa Sé, decisões unilaterais representariam “uma ferida para a comunhão eclesial e uma ameaça à unidade da Igreja”.
A nota cita a carta enviada pelo Papa à Igreja Católica na Alemanha, com data de 29 de junho de 2019: “A Igreja universal vive nas e das Igrejas particulares, assim como as Igrejas particulares vivem e florescem na Igreja universal; quando se encontram separadas de todo o corpo eclesial, enfraquecem, apodrecem e morrem. Daí a necessidade de manter sempre viva e eficaz a comunhão com todo o corpo da Igreja”.
“Espera-se que as propostas do Caminho das Igrejas particulares na Alemanha confluam no caminho sinodal que a Igreja universal está a percorrer, para um enriquecimento mútuo e um testemunho da unidade com a qual o corpo da Igreja manifesta a sua fidelidade a Cristo Senhor”, conclui a nota.
Os alertas do Papa Francisco
O “Caminho Sinodal” da Igreja Católica, na Alemanha, aprovou na sua última sessão plenária os documentos “Fundamentos teológicos do caminho sinodal”, “Poder e separação de poderes na Igreja” e “Envolvimento dos fiéis na nomeação do bispo diocesano”.
O processo, que deveria terminar no fim de 2022, foi prorrogado por mais um ano, devido à pandemia. Em cima da mesa estão, entre outros, textos sobre o diaconado feminino e o fim do celibato obrigatório para os padres diocesanos.
O tema foi abordado pelo Papa numa conversa com os editores das revistas da Companhia de Jesus (Jesuítas), que ocorreu a19 de maio e foi publicada a 14 de junho.
Francisco referiu ter dito ao presidente da Conferência Episcopal Alemã, D. Georg Bätzing: “Na Alemanha há uma Igreja Evangélica muito boa. Não precisamos de duas”.
“O problema surge quando o Caminho Sinodal tem origem nas elites intelectuais, teológicas e é muito influenciado por pressões externas. Há algumas dioceses onde o caminho sinodal está a ser feito com os fiéis, com o povo, lentamente”, precisou.
O Papa recordou a carta de 2019, escrita pelo próprio punho, na qual manifesta consciência da situação da Igreja no país e deixa vários alertas. “Sempre que uma comunidade eclesial procurou sair sozinha dos seus problemas, confiando somente nas próprias forças, métodos e inteligência, acabou por multiplicar e alimentar os males que pretendia superar”, referia.
Francisco alertava a Igreja Católica na Alemanha para a tentação de “acreditar que a melhor resposta aos muitos problemas e às carências existentes consiste em reorganizar as coisas, mudá-las e ‘recolocá-las juntas’ para ordenar e tornar a vida da Igreja mais ágil, adaptando-a à lógica atual ou de um grupo particular”.
A Igreja Católica vive, a nível mundial, um processo sinodal convocado pelo Papa e dividido em três fases, entre outubro de 2021 e outubro de 2023, com uma etapa diocesana e outra continental, antes do encontro mundial, no Vaticano.