A Associação para a Defesa do Consumidor (DECO) quer que o Governo elimine uma das condições para as famílias poderem aceder aos apoios no pagamento do crédito à habitação. Em causa está a condição do agregado familiar não ter poupanças a rondarem os 30 mil euros (29.786,66 euros). A DECO considera que este é um sinal contraditório dado pelo Estado, que desvaloriza o esforço que as famílias fazem para poupar.
À Renascença, Natália Nunes, do Gabinete de Proteção Financeira da DECO, defende, por isso, que “esse requisito deveria ser eliminado, porque não deveria ser uma condicionante para se ter acesso a um apoio relativamente à bonificação dos juros, até porque é fundamental também que o próprio Estado dê aqui incentivos e orientações para que as famílias promovam a poupança”.
Para esta responsável, o Governo “está a dar sinais contraditórios e que põem, muitas vezes, em causa a importância de fazer a poupança”. Natália Nunes insiste que este “deveria ser um requisito que deveria ser eliminado e que a DECO vai continuar a insistir neste ponto”.
A coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO diz que todos os dias há famílias que pedem ajuda junto da Defesa do Consumidor com dificuldades para pagar o crédito à habitação, por causa do aumento das taxas de juro, e relata um dos casos que chegou ao seu conhecimento: “Uma família que nos disse que em 2022 pagava uma prestação de 378 euros, em setembro de 2023 pagava 491 euros e agora recebeu uma informação do banco a dizer que irá pagar 737 euros, e aquilo que nos diz é que é completamente impossível pagar este valor tendo em conta os nossos rendimentos, são palavras de uma consumidora que nos pede ajuda”.
Banca ainda dificulta renegociação e até sugere venda da casa
Nestas declarações à Renascença, Natália Nunes denuncia ainda que a banca nem sempre apresenta soluções às famílias, que estão em dificuldades.
“Aquilo que nós continuamos a verificar, infelizmente, e apesar de todos os alertas e pressão que é feita, é as instituições de crédito a continuarem a não terem, muitas vezes, a abertura que se recomendava nestas situações para se encontrar soluções que evite que estas famílias entrem em situação de incumprimento”, afirma.
A responsável da DECO ouviu de uma família que a indicação que foi dada pelo seu banco foi a de que “vendesse a casa”.
Este ano cerca de 20 mil famílias já pediram ajuda à DECO, um número semelhante ao de anos anteriores, por dificuldades em pagar a casa e também por dificuldades em fazer face ao aumento do custo de vida.
No âmbito do Dia Mundial da Poupança, Natália Nunes anuncia uma nova área no site da DECO sobre como “Sobreviver à Crise”, onde há conselhos para ajudar as famílias a equilibrar o orçamento familiar, como por exemplo, “informações sobre os cuidados que devem ter na elaboração e gestão do orçamento familiar, nos cuidados que devem ter quando pretendem recorrer a um qualquer crédito ou quando querem contratar um seguro ou o que devem fazer quando não conseguem pagar atempadamente uma dívida às finanças ou à segurança social”.