Desde o início do ano, registou-se um aumento dos ataques a civis na sequência dos conflitos armados em Cabo Delgado, Moçambique, alerta o diretor-executivo da Amnistia Internacional (AI) à Renascença.
Assinalam-se três anos desde o início dos confrontos liderados pelo grupo autointitulado “Al-Shabaab” e pelas forças de segurança, que são suspeitas de cometerem crimes semelhantes. Segundo Pedro Neto, "a resposta por parte das forças de defesa do governo tem deixado muito a desejar”, pelo facto de não estarem “a ser eficazes no ataque a estes terroristas".
Muitos destes crimes são cometidos também por membros das forças de segurança, uma vez que têm ocorrido “vários ataques a cidadãos, jornalistas, investigadores de ONGs”.
O diretor-executivo da organização revela ainda que “um investigador da AI foi detido durante alguns dias, enquanto estava em trabalhos naquela região. Esta situação está a atingir proporções enormes”.
"Lutar pela justiça e por conseguir responsabilizar criminalmente todos os suspeitos de terem cometido crimes contra o direito internacional e violações de direitos humanos" é uma das missões da Amnistia.
Pedro Neto revela que tem sido feito um esforço por "denunciar os ataques de um lado e de outro desde 2017", mas, em contrapartida, "infelizmente a resposta do governo moçambicano aos nossos apelos por justiça e controlo da região não têm sido respondidos com sucesso".
O executivo de Maputo anunciou que vai lançar uma investigação independente à tortura e outras violações graves cometidas por forças de segurança em Cabo Delgado.
O mesmo responsável admite que, apesar de não se estar a verificar imparcialidades nestas investigações, a Amnistia tem esperança de que todos os suspeitos de responsabilidade criminal prestem contas em tribunais civis através de julgamentos justos.
Cabo Delgado é a província costeira mais a norte de Moçambique, local dos megaprojetos de exploração de gás natural e que enfrenta uma crise humanitária com mais de mil mortos e 300.000 deslocados internos - resultado de três anos de conflito armado entre as forças moçambicanas e rebeldes, cujos ataques já foram reivindicados pelo grupo jihadista, mas cuja origem continua por esclarecer.