O líder parlamentar do BE afirmou esta segunda-feira que o Governo prevê uma “inflação acima do previsto” no ano passado, que, sem ajustamento nos salários e pensões, terá como consequência “cortes no poder de compra”.
No final da reunião com o Governo, Pedro Filipe Soares escusou-se a divulgar o número concreto previsto pelo executivo para a taxa de inflação este ano - no Programa de Estabilidade previa-se que ficasse nos 2,9% -, mas falou numa “inflação galopante”.
Questionado pelos jornalistas se tal pode significar um regresso da austeridade, como referiu o PSD, o líder da bancada bloquista não repetiu esta expressão, preferindo falar em “corte do poder de compra”.
“A inflação com o aumento galopante que está a ter, em particular nos serviços e bens essenciais, é um corte no poder de compra das famílias, é um corte nos salários e nas pensões. E o Governo não agir sobre esta matéria é para nós algo incompreensível”, criticou.
Perante a insistência dos jornalistas sobre palavra austeridade, o líder do BE reiterou: “Mais claro do que fui é impossível, há um corte de poder de compra”, criticou, salientando que o partido já propôs e insistirá num aumento intercalar de salários.
Pedro Filipe Soares acusou o Governo de ter “resposta limitadas, uma teimosia incompreensível e uma desistência inaceitável”.
Entre as “respostas limitadas”, o deputado incluiu as medidas apresentadas hoje de manhã pelo Governo para fazer face a aumentos dos preços em alguns setores.
“Têm um impacto na formação de preços de combustíveis ou da eletricidade muito limitado. Por outro lado, o Governo recusa controlar preços de alguns setores”, criticou.
O líder parlamentar do BE apontou como “desistência inaceitável” a de taxar “lucros abusivos”, como os que considerou terem empresas como Galp, EDP, Pingo Doce ou Continente.
“E há uma teimosia que não podemos aceitar: quando olhamos para a inflação galopante que vai levar a maior pressão sobre as famílias, a consequência que há do lado do Governo é não querer mexer na política de rendimentos e salários. O Governo está a aceitar que se cortem salários e pensões”, acusou.
Questionado se foi possível perceber na reunião se o Orçamento conterá medidas que estavam no último documento ainda negociado com PCP e BE, mas que foi ‘chumbado’ no final de outubro do ano passado, Pedro Filipe Soares diz que será preciso “aguardar para ver”.
“O que é conhecido demonstra que este Orçamento do Estado é manifestamente insuficiente para responder aos desafios do país em matérias essenciais: valorização de salários, controlo de preços, garantia de que inflação não vai servir para corte geral de rendimento das famílias”, reiterou.
O Governo está hoje a apresentar aos partidos com assento parlamentar as linhas gerais da sua proposta de Orçamento do Estado para 2022, documento que será entregue na Assembleia da República na quarta-feira.
Nestas reuniões, na Assembleia da República, que decorrem ao abrigo do Estatuto do Direito de Oposição, pela parte do executivo estarão presentes a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, bem como a equipa do Ministério das Finanças liderada por Fernando Medina.
Do lado do BE, estiveram presentes o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, e a deputada Mariana Mortágua.
O Programa de Estabilidade, divulgado no final de março, prevê que o défice orçamental caia dos 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) registado em 2021 para 1,9% do PIB este ano, uma revisão em baixa face aos 3,2%, previstos na proposta do OE2022.
Quanto ao crescimento, o PE prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 5% este ano, fixando-se 0,8% acima do nível pré-pandemia, que constituem uma revisão em baixa face aos 5,5% que inicialmente o Governo previa para este ano e que já tinha admitido que iria rever, tendo em conta o cenário colocado pela guerra na Ucrânia.
Ainda de acordo com o PE, o Governo prevê que a taxa de inflação aumente para 2,9% este ano, uma revisão em alta de dois pontos percentuais face ao previsto anteriormente, e estima uma taxa de desemprego de 6% este ano, abaixo dos 6,5%.