“Quando se tira a metadona às pessoas, destabiliza-se por completo aquelas vidas que, se calhar, já se tinham equilibrado”. O alerta é deixado pelo comentador da Renascença Henrique Raposo perante uma reportagem da Renascença que dá conta do corte na distribuição de metadona, em Lisboa, por não haver dinheiro disponível.
No seu habitual espaço de comentário n’As Três da Manhã, Raposo diz que o problema da droga não está a ser devidamente acompanhado e tece críticas ao Governo e também à autarquia de Lisboa.
“Temos aí dois problemas - um é uma espécie de austeridade à Costa e à Centeno que devolveram dinheiro aos funcionários públicos, mas, depois, cortaram no funcionamento das organizações. As pessoas que lá trabalham tiveram uma devolução do salário, mas, depois, não tinham dinheiro para contratar novas pessoas ou o material em si mesmo”, diz Raposo.
Mas há mais – continua o comentador – “como sociedade, pensamos que a droga era só um problema do passado, tinha ficado para trás. Quando Portugal teve a pior epidemia de sida/heroína que nos levou a ser muito progressistas na maneira como abordamos a questão, fomos pioneiros na abordagem progressista e certa da droga”.
Estamos a perder essa visão?
“Estamos. Não sei se é por esquecermos o que se passou, passamos a ter uma visão mais punitiva ou por falta de meios”, responde.
No seu espaço de comentário na Renascença, Raposo recorda que “estamos a falar de pessoas que são doentes”. “Só há dois tipos de saída: é impossível ou é extremamente difícil”, diz, acrescentando que “a metadona estabiliza as pessoas, estabiliza as famílias”.
Por isso, Raposo adverte que, quando se tira a metadona, está a criar-se “uma bola de neve de vários tipos de violência e, sobretudo, cria-se um problema adicional de saúde, saúde pública e saúde para aquelas pessoas”.
Olhando para o que se passa na Avenida de Ceuta, Raposo diz não compreender “como é que aquilo não está no centro das nossas preocupações, quer do Estado”, criticando também Carlos Moedas.
“A Lisboa do turismo e do Instagram e dos eventos têm que olhar para aquela Lisboa que está a voltar a ter cenários de Casal Ventoso que nós pensávamos no passado”, defende.