O chefe de Estado respondeu assim quando interrogado sobre a pretensão da Ucrânia de aderir à União Europeia e sobre o pedido da embaixadora ucraniana em Portugal, Inna Ohnivets, de "sanções especiais" contra russos com nacionalidade portuguesa.
"Há aqui uma preocupação muito grande, que entendem bem, que é não ser cada um para seu lado, quer dizer, não haver posições bilaterais, mas sim posições europeias, e mais os aliados, em tudo o que é economia, finanças, diplomacia, política", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa perante os jornalistas, junto ao Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, no distrito de Lisboa.
"O caminho a percorrer é esse: é atuar em conjunto. A atuação em conjunto é mais forte, é mais eficaz, não cria clivagens nem divergências. É o que temos feito, é o que vamos continuar a fazer", acrescentou.
O Presidente da República, que tinha acabado de discursar na apresentação de uma iniciativa de doação de livros para uma biblioteca da cidade angolana de Luena, não quis comentar as abstenções de Angola e de Moçambique em relação à resolução que condena a agressão russa contra a Ucrânia hoje aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
"Não vou comentar agora posições de Estados. O que interessa é reafirmar a posição portuguesa, reafirmar a posição tomada em conjunto com os parceiros europeus, e com os seus aliados", declarou Marcelo Rebelo de Sousa, à saída desta cerimónia, em que estiveram também o embaixador de Angola em Portugal, Carlos Fonseca, e o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa.
Interrogado sobre eventuais novas sanções adotadas por Portugal contra o regime de Moscovo, o chefe de Estado referiu que é o Governo quem "conduz a política externa, naturalmente, em permanente sintonia com o Presidente da República e com o parlamento", e escusou-se a comentar "medidas concretas".
"Nomeadamente porque tem havido uma preocupação de concertar essas posições no quadro europeu, e no quadro dos aliados da União Europeia. Portanto, Portugal o que tem feito, e tem feito de forma permanente e exemplar, é tomar as decisões que considera que são adequadas, mas sempre em conjunto e em diálogo com os demais parceiros da União Europeia e parceiros não europeus mas que são aliados nesta causa", prosseguiu.
Sobre a pretensão da Ucrânia de aderir à União Europeia, o Presidente da República remeteu a questão para as instituições europeias: "Sabem qual é a posição da União Europeia, a posição de princípio que tem sido defendida pela Comissão e pelo Parlamento Europeu. É nesse quadro que se coloca a posição portuguesa".
"Esse é um problema político-institucional, e o caminho a percorrer é esse: é atuar em conjunto", sustentou.
Marcelo Rebelo de Sousa ressalvou que "é evidente que cada um tem a sua posição, no sentido de que tem o seu voto", mas tratando-se de "uma matéria que é muito sensível" há que procurar "uma união de esforços" até onde seja possível.
"Quer dizer, não haver um Estado a atuar por si, mas haver uma convergência europeia, tratar dos problemas a nível europeu, e ser a nível europeu, em diálogo com os aliados, que se tomam as decisões. Parece neste momento e neste caso ainda mais justificável do que nunca", reforçou.
Antes, o Presidente da República discursou na apresentação pública da iniciativa "Um livro por Angola", promovida pela organização Lions Clubs International, com o apoio da Câmara Municipal de Odivelas.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou esta iniciativa, através da qual, segundo a organização, serão doados cerca de 40 mil livros a uma biblioteca da cidade de Luena, na província do Moxico, em Angola.
No seu entender, este encontro simboliza paz, solidariedade e esperança, "a esperança que ultrapassa as barreiras, a esperança que supera os ódios, a esperança que faz construir o futuro".
O chefe de Estado apontou a sua presença nesta cerimónia como "um sinal de que a solidariedade é possível em todos os azimutes e em simultâneo" e de que "a esperança é sempre a última a morrer".
A Federação Russa lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento em várias cidades.
De acordo com as autoridades ucranianas, os ataques russos já fizeram mais de 2.000 mortos civis. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima mais de 200 mil deslocados internos e mais de 800 mil refugiados.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender e durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela maioria da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos da América, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e sanções para isolar o regime de Moscovo.