“Agravamento drástico de casos de Covid-19 aconteceu com as escolas fechadas”
11-01-2021 - 20:20
 • Renascença

​Escolas devem encerrar no novo confinamento geral? Encarregados de educação e escolas privadas são contra, primeiro-ministro invoca peritos para manter aulas presenciais, mas também há quem defende enviar os alunos mais velhos para casa, como vai acontecer na Madeira.

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Os encarregados de educação estão ao lado do primeiro-ministro na intenção de manter as escolas abertas durante o novo confinamento geral que será decretado esta semana. Já o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, admite que os alunos mais velhos sejam enviados para casa durante esta fase mais crítica da pandemia de Covid-19.

O presidente da Confederação das Associações de Pais (Confap) defende que não faz sentido fechar os estabelecimentos de ensino, mesmo no quadro de um novo confinamento geral devido ao aumento de casos e mortes por Covid-19 em Portugal.

Jorge Ascensão lembra, em declarações à Renascença, que a recente explosão de novos casos de Covid-19 aconteceu durante as férias escolares do Natal.

As escolas provaram que estavam preparadas, que tinham condições, as regras foram cumpridas. Os casos relacionados com as escolas, na esmagadora maioria, são casos de contágios fora das escolas. Dentro das escolas são mínimos os casos de contágio. Portanto, são locais seguros”

“Este agravamento muito drástico do número de casos aconteceu com as escolas fechadas”, afirma o dirigente da Confap.

Além de as escolas serem espaços com pouco risco, Jorge Ascensão alerta que o ensino à distância acentua desigualdades entre alunos.


"Confinamento provocou enormes índices de ansiedade"

Para o diretor-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), Rodrigo Queiroz e Melo, as escolas são “locais de risco baixo” e devem por isso manter-se em funcionamento.

O confinamento no ano passado trouxe problemas para as crianças e jovens ao nível psicológica, adverte Rodrigo Queiroz e Melo.

“Salvo se os especialistas vierem dizer algo muito em contrário, a verdade é que quando balanceamos a necessidade entre interromper com o bem-estar das crianças e dos jovens, percebemos que o confinamento provocou enormes índices de ansiedade, de dificuldade, de situações de maior fragilidade psíquica e, nessa medida, achamos que é de manter o ensino presencial.”

O primeiro-ministro afirmou esta segunda-feira que, entre os peritos, a posição mais consolidada aponta no sentido de manter os estabelecimentos de ensino abertos num novo confinamento e adiantou que essa é também a vontade do Governo.

Em sentido contrário, o governo regional da Madeira decidiu suspender todas as aulas presenciais no 3.º ciclo e no secundário a partir de quarta-feira e até 31 de janeiro.

Colocar os alunos mais velhos em ensino à distância é uma medida que tem a concordância da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) e da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANADEP), ouvidas pela agência Lusa.


No mesmo sentido vai a reação do presidente da Associação Nacional dos Diretores dos Agrupamentos e Escolas Públicas. Ouvido pela Renascença, Filinto Lima defende o ensino presencial, mas admite exceções.

“Eu não queria muito pôr a foice em seara alheia, mas aqui a decisão poderá ser confinar o ensino secundário, por exemplo, em alguns concelhos. Não no país na sua totalidade", começa por dizer.

"Os mais novinhos, se forem para casa – os do pré-escolar, os do primeiro ou segundo ciclo, e até mesmo os de terceiro ciclo – acho que vai ser muito negativo, vai ser mesmo, para o processo de aprendizagem", diz.

“A questão das escolas não é apenas o que acontece dentro de muros"

Em declarações à Renascença, o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, admite que os alunos mais velhos sejam enviados para casa durante esta fase mais crítica da pandemia.

“O encerramento de escolas é sempre uma decisão complicada, porque na prática sabemos que medidas mais restritivas implicam mais sacrifícios. No caso concreto das escolas, a grande questão que se coloca é que, talvez para aqueles que são de idade mais avançada, podem de forma mais autónoma eventualmente ficar em casa”, argumenta o especialista.

Ricardo Mexia refere que em meio escolar Portugal não regista “grandes surtos”, mas há a questão das deslocações em transportes públicos, por exemplo.

“A questão das escolas não é apenas o que acontece dentro dos muros das escolas. Dentro das escolas nós assistimos a casos muito esporádicos, mas a questão que se coloca é toda a mobilização que os pais e que os transporta para as escolas… tudo o que isso implica. É uma decisão que tem de ter em conta também isso. É verdade que em meio escolar não tivemos grandes surtos”, refere.

“A questão é o envolvimento da comunidade escolar nos transportes públicos, nas suas deslocações, etc… Esse volume é que, potencialmente, se puder ser evitado, também reduz o risco de disseminação da doença. É mais nesse sentido. Em relação à questão pedagógica, não é a minha área, não me irie pronunciar”, sublinha Ricardo Mexia.

Noutros países europeus as escolas foram encerradas durante esta terceira vaga da pandemia, como foi o caso do Reino Unido.

Portugal registou esta segunda-feira mais 122 mortos e mais 5.604 infetados com Covid-19 nas últimas 24 horas. É o maior número de vítimas mortais num dia desde o início da pandemia.

O número de internados também continua em trajetória ascendente, aproximando-se dos quatro mil. Há, neste momento, 3.983 pessoas internadas em unidades de saúde (mais 213 do que ontem), dos quais 567 em cuidados intensivos (mais nove do que ontem).

O número de concelhos em risco extremo mais do que duplicou, passando de 25 para 57 na análise divulgada esta segunda-feira sobre a incidência cumulativa de Covid-19 referente ao período entre 23 de dezembro e 5 de janeiro (Veja aqui a lista completa - PDF).

Evolução da Covid-19 em Portugal