É “preocupante e dramática” a situação que se vive na pediatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, na sequência da greve dos enfermeiros.
“Desde que esta greve começou, desde o passado dia 22 de novembro, não foi possível operar uma única criança no Hospital de Santa Maria na cirurgia pediátrica, o que é preocupante por um lado e dramático por outro”, afirma Carlos Martins, presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte.
Até agora, foram canceladas “sensivelmente 50” cirurgias pediátricas, adianta.
“Somos um hospital universitário, um hospital fim de linha e recebemos na pediatria desde Melgaço até Maputo, ou seja, não só do todo nacional mas da diáspora e começa a ser uma situação nos deixa muito constrangidos”, afirma ainda para deixa claros os efeitos negativos da paralisação.
No total, a greve dos enfermeiros já obrigou, no Hospital de Santa Maria, ao adiamento “de sensivelmente 500 cirurgias programadas”.
“Isto, sem prejuízo de termos, ao abrigo dos serviços mínimos, blocos de urgência a funcionar e sem prejuízo de algumas salas terem, durante este já longo período, terem funcionado e termos conseguido, mesmo assim, realizar cerca de 250 cirurgias programadas”, acrescenta Carlos Martins.
Entre as cirurgias abrangidas pelos serviços mínimos estão as do foro oncológico.
Antes de a greve começar, o Centro Hospitalar Lisboa Norte “fizemos o nosso planeamento no pior cenário possível”, tendo equacionado três soluções.
“Uma, fazer reprogramação dentro do possível; segunda opção, recorrermos a instituições de proximidade do Serviço Nacional de Saúde – o que temos feito, mas também nunca esquecendo que o nosso hospital é altamente diferenciado, ou seja, não podemos recorrer a qualquer instituição, porque teremos de recorrer em primeira linha a instituições de perfil idêntico ao nosso”, explica o presidente daquele centro hospitalar.
Neste “plano B”, a ideia é “recorrer ao serviço público e procurar reagendar com a colaboração dos nossos colegas” de hospitais que não estão a ser afetados como o Santa Maria, como é o caso de São José.
“Plano C: no limite, as nossas equipas saem do hospital. As equipas cirúrgicas vão operar onde tivermos blocos disponíveis. Levamos os doentes, levamos a equipa e operamos. Ou recorremos ao setor privados e ao setor social”, acrescenta Carlos Martins, sublinhando que, nestes casos, haverá sempre a ponderação “do razoável em termos de risco para a qualidade de vida dos doentes”.
Como o Centro Hospitalar Lisboa Norte, também os hospitais de “São João, Santo António e Coimbra” estão a ser afetados negativamente pela greve dos enfermeiros, que começou há 16 dias.
Na entrevista à Manhã da Renascença, Carlos Martins afirma que todos os dias fala com o Ministério da Saúde para, “com toda a transparência”, reportar “o impacto desta greve”.
“Os números falam por si. Quando lhe digo que não conseguimos operar uma única criança nesta grande instituição fim de linha do país e de referência para a diáspora portuguesa, desde o dia 22 de novembro, acho que não preciso dizer mais nada”, remata.