Covid-19. Médicos “cansados de não ajudar” escrevem carta
08-02-2021 - 09:12
 • Renascença com Lusa

Carta foi enviada à ministra da Saúde, ao Primeiro-ministro e ao Presidente da República. "Queremos ajudar e declaramo-nos presentes", pode ler-se.

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Mais de uma centena de médicos, alguns reformados, escreveram uma carta a queixarem-se das barreiras administrativas que lhes foram levantadas quando se ofereceram para ajudar como voluntários o Serviço Nacional de Saúde.

Sublinhando que o SNS "vive um dos seus períodos mais exigentes de sempre", situação na qual "todos são precisos e ninguém é dispensável", os médicos dizem-se dispostos a ajudar, que já se ofereceram, mas que forem levantadas barreiras administrativas e ao trabalho voluntário.

Na carta, enviada à ministra da Saúde, ao Primeiro-ministro e ao Presidente da República, e cujo primeiro signatário é o médico Gentil Martins, dizem que milhares responderam ao desafio lançado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, que "a lista foi enviada ao Ministério da Saúde" e que "nada aconteceu ou foi colocado um conjunto de barreiras administrativas inexplicáveis, entre as quais a recusa de trabalho voluntário".

Maria do Céu Machado, uma das signatárias da missiva, diz que “estão cansados de não ajudar” e à Renascença dá dois exemplos do que podem fazer: “Fazer os inquéritos epidemiológicos, que são tão importantes para evitar a transmissão da infeção, como ter cuidados intensivos, ter ventiladores e recursos humanos nos hospitais; por outro lado, há sempre um médico que tem que estar presente nos lugares de vacinação e nós poderemos também dar apoio nessa área”.
A ex-presidente do Infarmed lembra que se ofereceram para ser voluntários, sem necessidade de qualquer pagamento, por isso, não entende a burocracia a que estão sujeitos.
"Somos um conjunto de médicos, alguns reformados, mas ativos. Queremos ajudar e declaramo-nos presentes", afirmam na carta, sublinhando que os médicos "têm estado nas primeiras linhas do combate à Covid-19", assegurando não só a frente de batalha, mas também "garantindo o apoio a todos os doentes não Covid".

"Mas somos poucos para tanto que está a atingir a nossa saúde e o nosso SNS", lamentam os clínicos, dizendo que mantêm a "vontade de participar ativamente no combate à pandemia", "na educação para a saúde das populações", "nos inquéritos epidemiológicos", "no trace covid", "no apoio à vacinação" e "nos hospitais de campanha".

Na missiva, os médicos consideram incompreensível não terem sido chamados a participar "quando os hospitais e centros de saúde começam a claudicar por cansaço" e a "saúde pública todos os dias alerta para a falta de recursos".

"Estamos aqui e queremos ajudar neste combate. Lutando com toda a nossa energia e materializando tudo aquilo que afirmámos no nosso Juramento de Hipócrates", afirmam, pedindo aos governantes que assumam que é necessário o esforço de todos e que "o 'exército' pode ser reforçado".

"Os portugueses não entenderão que se continue a não aceitar a nossa presença e que a nossa participação seja dificultada por burocracias inexplicáveis", consideram, pedindo que a sua ajuda seja considerada como voluntária.