Os apartamentos ficam a poucos metros um do outro, ambos próximos do Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios, em Lisboa. Foram arrendados e sujeitos a obras de reabilitação.
Cada um tem três quartos, casas de banho e uma pequena cozinha usada sobretudo para aquecer o jantar que os seus habitantes trazem pronto do centro, onde tomam as outras refeições.
Não há uma sala comum porque o convívio entre os habitantes parece ser pouco. Cada um tem o seu quarto, em cada quarto uma televisão.
A diferença para a situação anterior prende-se com as condições. De quartos velhos, sujos, estragados, passaram para quartos arranjados, limpos e confortáveis, embora ainda bastante impessoais, talvez porque habitados há muito pouco tempo.
A limpeza é assegurada pelo centro social, assim como a lavagem das roupas. Cada um paga estes serviços consoante as suas reformas. A renda é suportada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
A ideia partiu do Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios, que estabeleceu um protocolo com a Misericórdia.
O objectivo é reinstalar, com dignidade, os 25 idosos pobres que, segundo um levantamento feito pelo próprio centro, vivem actualmente na freguesia de Arroios em quartos sem condições mínimas.
Para já, há dois apartamentos a funcionar. O primeiro foi inaugurado a seguir ao Natal de 2015. O segundo, no início de Janeiro. Outros dois foram já arrendados e estão neste momento em obras. Mais seis pessoas poderão, em breve, mudar-se para lá.
“Repúblicos” da terceira idade
António Costa chegou à sua nova casa logo a seguir ao Natal. Antes vivia num quarto sem condições, numa casa onde chegou a ser vítima de violência.
Para trás fica uma carreira profissional desafogada, mas que não acautelou o futuro, juntamente com um drama familiar que prefere guardar para si. Hoje, os dois companheiros de casa e as pessoas do centro fazem as vezes da família. No apartamento partilhado, sente-se “em casa”.
Bem perto da casa do António, Carlos e António Jantarete partilham o segundo apartamento.
Carlos tem 66 anos e está cego desde os 25. Durante dois anos, viveu num quarto, pago com a sua magra reforma. Hoje tem um quarto muito melhor, que não paga, e que até fica mesmo ao lado do café e da mercearia onde gosta de passar umas horitas à conversa.
No quarto ao lado, António Jantarete ainda está a habituar-se a dormir debaixo de um tecto. A sua história está longe de ser original. Desemprego, alcoolismo, ausência de laços familiares acabaram por o atirar para a rua. Dormia na Estação do Oriente quando o padre Paulo o encontrou e o trouxe para o centro.
Os anos sem regras ainda tornam difícil a aceitação das rotinas do dia-a-dia. A convivência com os companheiros nem sempre é fácil mas, para já, vai ficando. “Se não estivesse bem, já me tinha ido embora”.