O congresso do PS foi um êxito. Sem casos e com uma mensagem simples: um partido unido e centrado em ganhar as eleições e com “inimigos” bem identificados que foram surgindo ao longo das sessões de trabalho por esta ordem de intensidade: Chega, PSD e Ministério Público. Teve até alguma vitimização centrada na decisão do Presidente da República em dissolver o parlamento e convocar eleições. A narrativa foi eficaz, mas...
A apresentação da nova AD, embora sem a qualidade cénica do congresso do PS, foi também conseguida, onde não faltaram os piscares de olhos, os abraços e mãos dadas. Na substância, os vários intervenientes concentraram-se nas críticas à política do governo de António Costa na saúde, na educação e na justiça, com muitas referências históricas à mistura e algum saudosismo da AD de Sá Carneiro. Um discurso ideológico e duro nas criticas. Eficaz, mas…
Regressemos ao Congresso do PS. O centro é o novo líder, Pedro Nuno Santos. Surgiu forte, e com vigor. Tirando talvez José Sócrates, qual dos líderes do PS se poderia ter dado ao luxo de, no momento da consagração, percorrer o placo em passo acelerado, com alguns saltos pelo meio, a agradecer a ovação, como aconteceu no final do primeiro discurso de Pedro Nuno Santos? O discurso esteve muito bem estruturado, com ideias claras e propostas concretas.
O que falhou então nesta passagem de testemunho entre António Costa e Pedro Nuno Santos? No essencial, o esquecimento de algumas verdades e o silêncio.
Comecemos pela verdade. Continuar a culpar o PSD por todos as medidas restritivas adoptadas no período da presença da Troika, esquecendo o motivo pela qual houve uma intervenção externa em Portugal, não parece sério. Independentemente de se concordar ou não com as medidas da altura tomadas pelo governo de Passos Coelho, é faltar à verdade e assumir-se que na altura não houve um porquê.
Esquecer-se as medidas da Troika quando se acusa o governo de Passos Coelho de todo o pacote restritivo que Portugal viveu na altura é ignorar que muitas das medidas foram totalmente impostas e que Passos Coelho teve de assumir, depois de José Sócrates, pressionado pelo seu Ministro das Finanças, pedir ajuda externa – esta é uma omissão que não é séria, pois cria uma percepção que não cola com a realidade.
A segunda omissão surgiu no discurso final de Pedro Nuno Santos. É certo que estamos já em campanha eleitoral, mas as promessas têm de ser consubstanciadas, têm de ter um racional, têm de ser acompanhadas pelo livro de instruções – ou seja, precisa-se de se perceber como vão ser pagas. E as promessas foram muitas: o aumento do salário mínimo para 1000 euros até 2028, a carreira de dentista no SNS, o aumento do salário de entrada na carreira dos professores, a subida das pensões mais baixas e o programa para a capitalização das empresas, entre outras.
Sabemos que o momento não permitia que se fosse exaustivo, mas teria sido bom perceber-se como vão ser sustentadas, mas nem uma palavra – a reserva de Fernando Medina nas Finanças poderá não chegar para tudo.
A terceira omissão chega pela via da apresentação da nova AD. Além das críticas, a apresentação da AD foi omissa nas propostas. Quando se apresenta um projeto político é preciso mais do que dizer que a AD é uma “alternativa”, um projeto de “esperança” e de “confiança” É preciso perceber porquê, de que forma e como poderá acontecer a diferença.
Nas eleições de 10 de março as proclamações de vontades não chegam. Em três dias de congresso do PS e uma tarde de apresentação da AD não se percebeu como os principais partidos pretendem transformar Portugal. Perceberam-se os anseios, as vontades, mas todos foram omissos no como. Se no caminho até às legislativas se centrar a comunicação apenas no emocional, o país vai transformar-se num conjunto de claques, tal como nos clubes, onde o como e o porquê não interessam, bastando o cego porque sim. Para 10 de março são necessários compromissos concretos para problemas concretos. Se este caminho prosseguir, a partir de 11 de março seremos confrontados com uma outra realidade, provavelmente bem mais dura.