O presidente da Cáritas diocesana de Beja alerta para a possibilidade de a instituição poder vir a encerrar valências e a reduzir respostas, caso o Estado não cumpra com os compromissos assumidos.
Em causa, a demora no pagamento das ajudas, já de si insuficientes, para responder a situações de emergência. Isaurindo Oliveira, revela que há protocolos que não são atualizados há mais de uma década.
“Por exemplo, a Comunidade Terapêutica que faz parte da Cáritas não há uma atualização há 14 anos. Nessa altura, o ordenado mínimo era de 400 euros e agora passa para 760 euros. Portanto, isto significa que os constrangimentos são muito grandes e estamos na iminência de fechar esta valência”, refere, à Renascença, deixando outro exemplo.
“Na cantina social, cada refeição é paga a 2,50 euros, quando a nós custa-nos mais de 3,70 euros, cada. Já informamos a Segurança Social que se continuarmos assim, temos de reduzir os nossos serviços e não estou a ver como é que isto se resolve”, lamenta o presidente da instituição alentejana.
Isaurindo Oliveira lembra que a inflação e a subida generalizada dos preços, que impossibilitam fazer face às despesas atuais, colocaram a descoberto a necessidade, ainda maior, de atualizar os acordos estabelecidos com o Estado.
“Precisamos que as atualizações sejam feitas e cubram estas despesas que são reais. Estes desajustes que se verificam no financiamento, criam-nos graves estrangulamentos”, acrescenta o presidente da instituição que fornece cerca de 300 refeições por dia, num total aproximado de 110 mil por ano.
“A maioria dos produtos que fazem parte da ementa, subiram mais de 40% desde janeiro até agora. Se somarmos a isto à energia, a cozinha funciona a gás e a eletricidade, também com uma subida de mais de 40%, isto reflete-se no preço das refeições que, de certeza, já ultrapassa os 3,70 euros”, acredita o responsável.
É preciso rever protocolos desfasados da realidade
Recentemente, a presidente da Cáritas Portuguesa chamava a atenção para este problema. Rita Valadas falava na demora dos pagamentos acordados e na necessidade de rever os protocolos firmados, que considerou estarem “desfasados” da realidade.
“Há um grande desfasamento entre o momento em que nos pedem a colaboração e nós avançamos, e o momento em que começam a apoiar de acordo com o compromisso financeiro assumido. Mas também há desfasamento ao nível do conhecimento das próprias valências e da atividade que desenvolvem, e isto tem consequências financeiras”, referiu aquela responsável.
A Cáritas mantém-se, no entanto, disponível para continuar a colaborar quando for chamada. “Claro que sim, toda a gente sabe que não vamos deixar de dar uma resposta. Podemos não conseguir é garantir a resposta protocolada”, garantiu Rita Valadas.
Declarações corroboradas pelo presidente da Cáritas diocesana de Beja. Com 70 funcionários e um conjunto de valências que são necessárias sustentar, a instituição parte para 2023, um ano que se espera ainda mais complicado, sem saber com que “linhas se vai coser”. Isto, numa altura em que aumentam os pedidos de ajuda e cresce o número de imigrantes na região.
“Aquilo que verificamos é que pedidos que estão a fazer mais mossa na Cáritas, como os pedidos para ajuda nas rendas de casa, água e luz, que têm vindo a aumentar e estão a esgotar o fundo de emergência que temos. Relativamente aos pedidos de alimentação, estes têm vindo a aumentar com o pedido dos imigrantes”, conta Isaurindo Oliveira.
Desde agosto que a instituição está a fornecer mais 80 refeições a um grupo de quatro dezenas de timorenses que alojou, temporariamente, num edifício doado pela diocese, a chamada Casa do Estudante.
“Nós temos um protocolo com a Segurança Social até 30 de dezembro e já frisámos que essa assistência aos timorenses tem de cessar até essa data, por causa dos constrangimentos que nos está a provocar. Estamos com sobrecarga de todas as equipas”, lamenta.
O presidente da Cáritas compreende que a Segurança Social não consiga dar resposta a todas as necessidades, mas lembra que a instituição a que preside já está a trabalhar no limite.
“Temos que cortar isto, antes que comece a partir por qualquer lado”, conclui.