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São precisas camas, muitas camas, nos cuidados intensivos para
tratar os doentes com Covid-19. A recomendação é de José Artur Paiva, diretor
do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João, que coordena esforços
na linha da frente do combate ao coronavírus e esteve no programa da
Renascença "As 3 da Manhã".
“Temos tido muito trabalho. Primeiro tivemos de fazer uma reorganização do serviço. Foi preciso mudar totalmente o nosso paradigma de serviço e foi preciso aumentar o número de camas em que podemos dar cuidados intensivos. Temos de percer que somos dos países da Europa com um menor rácio de camas de cuidados críticos, por cada 100 mil habitantes. Essa capacitação a nível de camas é essencial”, reforça.
O aumento do número de camas deve ser acompanhado, sublinha José Artur Paiva, por uma separação dos doentes com e sem Covid-19. “Dividir recursos humanos e dividir geografias da medicina intensiva é essencial para a resposta”, salvaguarda, tendo como argumento a transmissibilidade da doença.
O HSJ é a unidade com mais doentes infetados – 26 neste momento – e há dois grupos claramente identificados. Por um lado, “idosos, com insuficiência respiratória grave, que por vezes se soma a outras doenças”, mas há um outro grupo, claramente identificado, composto por doentes “entre os 40 e os 60 anos”.
Proteção dos profissionais de saúde
O combate ao coronavírus compreende uma cadeia de condições fundamentais para que a luta seja efetiva e José Artur Paiva, que também é responsável pelo Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeções, alerta para a necessidade imperativa de proteger os profissionais de saúde.
“É preciso que os profissionais de saúde se mantenham seguros. Esta doença é perigosa nesse sentido, porque aumenta a carga de trabalho de forma significativa e tem a capacidade de ‘lapidar’ recursos ativos para a tratar, por transmissão aos profissionais de saúde. É central cumprirmos s regras de proteção e mantermos os profissionais de saúde seguros”, adverte.
O responsável do HSJ esclarece que, “nesta altura, não falta nada”, a nível de material de proteção individual. Há, no entanto, um outro tipo de proteção associada, a verificação humana, a vigilância. Um trabalho coletivo, com um profissional de saúde a olhar pelo outro.
“Os profissionais de saúde, estando na linha da frente do tratamento e do diagnóstico, estão particularmente expostos ao risco. Há um esforço coletivo. Quando nos equipamos para ver um destes doentes devemos fazê-lo com outro profissional, de forma a que estejamos vigiados por ele e não cometamos erros. Quando tiramos o nosso equipamento também devemos ter um profissional à nossa frente”, explica.
De acordo com dados Ordem, 20% doentes infetados com Covid-19 em Portugal são médicos. Um número que se reflete um pouco por todo o mundo, porque se trata de “uma doença muito transmissível, com letalidade que não é desprezível". "É um desafio novo e estamos a aprender com ela à medida que a tratamos”, observa.
A importância da triagem
Para travar a evolução da pandemia, como já deu a entender José Artur Paiva, é absolutamente essencial que haja uma separação clara dos doentes.
"Para 80% dos portugueses afetados a Covid-19 vai dar apenas sintomas ligeiros. É importante a capacidade de triagem dos doentes que não têm uma manifestação da patologia grave, para poderem ser tratados em casa, com o acompanhamento necessário. Só assim os hospitais terão capacidade de resposta para se concentrarem nos doentes que realmente precisam de tratamento hospitalar", diz, nestas declarações à Renascença.
Se houver um afunilamento de doentes nos hospitais será díficil para os serviços de saúde dar resposta ao desafio. "Se conseguirmos achatar a curva e fazer com que o número de doentes se dilua ao longo do tempo, os serviços responderão. Se tivermos concentração de casos graves e a curva não se achatar, eles terão muita dificuldade em responder", avisa.
O especialista alerta que, apesar de estarmos numa fase de mitigação, é determinante "continuarmos a ter esforços de contenção" para aliviar a pressão nos hospitais. Relativamente aos testes, José Artur Paiva considera que "é tê-los para os doentes que têm manifestação de doença abolsutamente significativa".
O responsável pelo serviço de Medicina Intensiva do HSJ tem esperança que o combate a esta pandemia eduque a sociedade, para cumprir melhor as regras de controlo de infeção. "Estou esperançado que a sociedade, depois da pandemia, tenha um ganho civilizacional", conclui
Em Portugal, há 33 mortes, mais 10 do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito pela Direção-Geral da Saúde, que regista 302 novos casos em relação a segunda-feira (mais 14,7%).
Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00h00 de 19 de março e até às 23h59 de 2 de abril.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19, já infetou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 18.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.