No dia da primeira volta das eleições presidenciais em França, o antigo embaixador português neste país admite uma vitória de Marine Le Pen.
À Renascença, Francisco Seixas da Costa acredita que Emmanuel Macron fez um mandato “competente, mas não entusiasmante” durante os cinco anos no Eliseu, marcados pelas manifestações dos coletes amarelos, pandemia e pela guerra.
O também ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus fala num fenómeno “estranho” na política francesa, em que Macron chegou “atrasado” à campanha, preferiu não debater na televisão e perdeu projeção por isso.
A ascenção de Le Pen é evidente nas últimas semanas e as mais recentes sondagens apontam para um empate técnico entre o Presidente socialista e a líder da extrema-direita na primeira volta.
O problema, diz Seixas da Costa, é que, de acordo com as projeções, “a extrema-esquerda e a extrema-direita somadas são neste momento maioria”, o que pode impor uma derrota ao atual chefe de Estado francês na segunda ronda.
“Isso é que é o ponto trágico para Marcon: é que os candidatos moderados que poderiam estar com ele têm 8%. Conclusão: numa segunda volta, estes votos não serão suficientes”, alerta o antigo embaixador português em França.
A razão? Francisco Seixas da Costa fala numa “presidência morna”, sem “rasgos”, que fazem com que muitos franceses não vislumbrem nele um “futuro”.
Aliado a isso, o ex-embaixador sublinha que Marine Le Pen tem vindo a moderar o discurso, abandonando a retórica anti-imigração e abanando bandeiras que são habitualmente associados à esquerda, como os direitos dos trabalhadores ou a perda do poder de compra.
Seixas da Costa assinala os novos movimentos “radicais” à esquerda e à direita que adoptam muitas causas de partidos de centro e deixam Macron “ensaduichado” no espectro político. O antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus acredita que Le Pen se trata de uma candidata de extrema-direita “disfarçada de candidata moderada”, que tem conseguido fazer uma “normalização” através de um discurso que passa por problemas que “dizem alguma coisa às pessoas comuns”.
Aproximação à Rússia?
Em caso de vitória de Le Pen, Francisco Seixas da Costa não acredita que possa haver uma aproximação entre o Eliseu e o Kremlin. O antigo embaixador lembra que a “esmagadora maioria da população francesa é fortemente anti-Putin, e não é uma Presidente que chega e faz mudar isso”.
Apesar de Marine Le Pen já ter, no passado, demonstrado alguma proximidade com Moscovo, o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus considera que a opinião pública do eleitorado francês vai impedi-la de convergir com o regime de Vladimir Putin.
No entanto, Seixas da Costa reforça que uma eventual eleição de Marine Le Pen seria “um fator de perturbação na política europeia em geral”, lembrando que a candidata à Presidência francesa já demonstrou posturas “profundamente antieuropeias”, mas que caíram por terra com a “normalização” da mensagem política que tem empreendido nos últimos anos.