O Governo iraniano acusou este domingo o Presidente francês, Emmanuel Macron, de fazer declarações "lamentáveis e vergonhosas" sobre a contestação em curso no Irão, considerando mesmo tratar-se de um incentivo à violência.
Macron recebeu quatro ativistas iranianas em Paris, na sexta-feira, à margem do Fórum da Paz, e elogiou a "revolução que estão a liderar" no Irão.
"É uma violação flagrante das responsabilidades internacionais da França na luta contra o terrorismo e a violência e consideramos que favorece estes fenómenos sinistros", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, citado pela agência francesa AFP.
O Irão tem sido palco de protestos desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma mulher curda iraniana de 22 anos que tinha sido presa três dias antes pela polícia moral por violar o rigoroso código de vestuário da República Islâmica.
O protesto, que começou como uma rejeição das restrições de vestuário impostas às mulheres após a morte da jovem, evoluiu para um movimento dirigido contra a teocracia que tem governado o Irão desde a revolução islâmica de 1979.
A organização não-governamental Iran Human Rights, com sede em Oslo, anunciou, no sábado, que a repressão dos protestos provocou 326 mortos.
O balanço anterior divulgado pela mesma organização, que tem uma rede de informadores no Irão, era de 304 mortos.
A delegação recebida por Macron integrava Masih Alinejad, uma ativista iraniana baseada em Nova Iorque que está a encorajar as mulheres iranianas a protestar contra o véu obrigatório.
Macron manifestou às ativistas "respeito e admiração no contexto da revolução que estão a liderar", segundo a AFP.
"As declarações de Macron sobre o seu apoio a esta chamada revolução liderada por estas pessoas são lamentáveis e vergonhosas", disse Kanani.
O porta-voz referiu-se especificamente a Masih Alinejad, considerando "surpreendente que o Presidente de um país que reivindica a liberdade se rebaixasse a encontrar-se com uma pessoa odiada".
Kanani acusou a ativista baseada em Nova Iorque de tentar "espalhar o ódio e levar a cabo atos violentos e terroristas no Irão e contra as representações diplomáticas do Irão no estrangeiro".