O Papa voltou a alertar, esta segunda-feira, para os efeitos que as alterações climáticas estão a ter no drama da fome e criticou a “avidez do lucro” que já levou alguns a darem passos atrás nesta matéria.
Francisco visitou a
sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
em Roma, nesta segunda-feira em que se assinala o Dia Mundial da Alimentação.
“Vemos as consequências das mudanças climáticas todos os dias. Graças aos conhecimentos científicos, sabemos como se devem enfrentar os problemas e a comunidade internacional tem elaborado também os instrumentos jurídicos necessários, como, por exemplo, o Acordo de Paris, do qual, infelizmente, alguns se estão a afastar”, afirmou o Papa, no que pode ser entendido como uma a alusão aos Estados Unidos. O Acordo de Paris, assinado durante a Conferência do Clima que decorreu na capital francesa, em 2015, estabeleceu a importância da adopção de modelos económicos que reduzam as emissões poluentes que são responsáveis pelo aquecimento global e pelas alterações climáticas.
“Reaparece a negligência perante os delicados equilíbrios dos ecossistemas e a presunção de manipular e controlar os recursos limitados do planeta”, afirmou o Papa, lembrando que os efeitos mais trágicos dessas decisões de alguns continuarão a recair “sobre as pessoas mais pobres e indefesas”.
Francisco voltou a apelar a uma “mudança de estilo de vida, no uso dos recursos, nos critérios de produção e até no consumo”, porque “não podemos conformar-nos a dizer ‘os outros que o façam’”.
"É urgente encontrar novos caminhos” disse Francisco, lembrando que a fome que atinge muitos locais do mundo também não acabará enquanto houver guerra. Apelou, por isso, à “boa vontade” e ao “diálogo” para “encontrar um compromisso total a favor de um desarmamento gradual e sistemático” que permita acabar com “a praga do tráfico de armas”.
“De que vale denunciar que por causa dos conflitos milhões de pessoas são vítimas de fome e desnutrição, se não se actua eficazmente a favor da paz e do desarmamento?”, questionou. “Está em jogo a credibilidade de todo o sistema internacional. Sabemos que a cooperação está cada vez mais condicionada por compromissos parciais, que chegam a limitar as ajudas de emergência”, completou Papa.
Uma estátua contra a indiferença
A intervenção do Papa foi feita na Assembleia Geral da FAO, a propósito do Dia Mundial da Alimentação, que este ano tem por tema "Mudar o futuro da migração".
Francisco inaugurou uma estátua que evoca o pequeno Aylan, a criança síria que foi encontrada sem vida à beira-mar e cuja imagem correu o mundo, simbolizando a luta dos milhares de migrantes e refugiados que arriscam a travessia do mediterrâneo para chegar à Europa. O Papa disse esperar que o monumento lembre que “as mortes por causa da fome ou do abandono da sua própria terra são uma notícia habitual, com o risco de provocar indiferença”.
O Papa alertou, ainda, para o desperdício de alimentos e para a especulação financeira com estes bens. “Reduzir é fácil”, mas “partilhar implica uma conversão, e isto é exigente, afirmou, sugerindo que se introduza o “amor” como “categoria de linguagem” na cooperação internacional.