As jogadoras da seleção nacional pedem alterações de fundo na Federação para aceitarem voltar a competir por Espanha, na sequência do beijo alegadamente não consentido de Luis Rubiales a Jenni Hermoso.
No documento, as jogadoras revelam a realização de várias reuniões com a Real Federação Espanhola (RFEF) em que a equipa "expressou de maneira clara as alterações que entendemos que são básicas para poder avançar e chegar a uma estrutura que não tolere atos deste tipo".
Só duas das 23 campeãs do mundo não assinam o comunicado divulgado nas redes sociais: Claudia Zornoza - que anunciou mais tarde o adeus definitivo à seleção, expressando "solidariedade" para com as companheiras e apelando a que "a estrutura de toda a seleção mude de uma vez por todas" - e Athenea del Castillo.
A nota oficial saiu pouco antes da hora que estava programada para a apresentação da nova selecionadora, Montse Tomé, e consequente divulgação da convocatória para os dois primeiros jogos da Liga das Nações. A RFEF já anunciou o adiamento da cerimónia "para novo horário a confirmar".
O plantel garante que teve uma atitude "aberta e de diálogo" e que as alterações pedidas à federação têm como objetivo criar uma "tolerância zero para quem, com um cargo federativo, incentivou, escondeu ou aplaudiu atitudes que vão contra a dignidade das mulheres". A nova selecionadora, o antigo - Jorge Vilda, entretanto despedido - e o atual selecionador masculino aplaudiram todos o discurso em que Rubiales recusou demitir-se.
"Todas estas pessoas devem estar longe do sistema que deveria proteger-nos", pode ler-se na nota oficial, em que a equipa também vinca que "as jogadoras da seleção espanhola são jogadoras profissionais".
As jogadoras solicitam a restruturação do organigrama do futebol feminino, a reestruturação do gabinete da presidência e da secretaria geral, a demissão do presidente da RFEF, Rubiales, que já aconteceu, a restruturação da área de comunicação e marketing - que emitiu um comunicado com declarações alegadamente falsas de Hermoso após o beijo de Rubiales -, e a restruturação da direção de integridade.
"Ao dia de hoje, tal como transmitimos à RFEF, as mudanças produzidas não são suficientes para que as jogadoras se sintam num lugar seguro, onde se respeite as mulheres, se aposte pelo futebol feminino e onde possamos dar o nosso máximo rendimento", conclui o comunicado.
Ao todo, 39 jogadoras assinam o comunicado, incluindo 21 das 23 que se sagraram campeãs do mundo na Austrália e na Nova Zelândia.
Da pré-convocatória para o Mundial 2023, falta mais uma ainda: Sheila García, que já afirmou que "defender as cores os [seus] direitos, os das companheiras e demais mulheres que possam sentir-se representadas não vai contra vestir a bandeira".
"Posiciono-me do lado de Jenni e das minhas companheiras, mas quero dizer que sinto que defender as minhas cores, o meu país e vestir a camisola da seleção está acima das pessoas que em qualquer momento governem, dirigem ou giram a Federação, a FIFA ou qualquer organismo de que dependemos", escreveu em comunicado.
A Espanha vai defrontar a Suécia e a Suíça na dupla jornada inaugural da Liga das Nações, a 22 e 26 de setembro, respetivamente. Também a Itália faz parte do Grupo D da Liga A. A nova prova do futebol feminino tem dois chamarizes: um troféu e três vagas para os Jogos Olímpicos, em que a seleção espanhola nunca participou.
[Notícia atualizada às 19h56]