Ao contrário do que seria de esperar, há cada vez mais portugueses sem médico de família atribuído.
O que nos dizem os novos dados?
Dizem que, em maio, o número de utentes com médico de família era o mais baixo desde 2016. Em junho, havia um milhão e 605 mil pessoas sem um médico atribuído. São mais 75 mil do que em fevereiro.
Estes são dados do do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde.
Mas porque é que isto acontece? Os governos dizem sempre que vão conseguir diminuir esse número...
Sim, mas os números dizem-nos que, pelo menos por agora, isso não passa de um plano de intenções. Não está a acontecer e pode não acontecer tão cedo.
Porquê?
Porque, por um lado, há muitos médicos em idade da reforma. Por outro lado, com a criação das Unidades Locais de Saúde, o Governo mudou as regras e agora cabe às ULS o recrutamento de jovens médicos, em vez de haver concursos nacionais.
Este é um dado avançado pelo jornal Público. E o problema é que só esta semana é que as ULS publicaram a abertura dos primeiros concursos.
E quanto tempo vai demorar este processo?Não há um prazo exato, mas tudo indica que será longo e é por essa razão que o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar avisa que a carência de médicos de família não será invertida tão cedo. André Biscaia diz mesmo que nunca houve um atraso tão grande nestes concursos.
No ano passado, por exemplo, o concurso aconteceu em maio e os médicos estavam colocados em junho. Este ano, com toda a reorganização dos serviços, ninguém sabe quando é que isso poderá acontecer.
O que diz o Governo?
Admite atrasos mas o Ministério da Saúde assegura que já foi iniciado o processo de contratação de médicos por parte das ULS.
Ao Público, o gabinete da Ana Paula Martins diz que, quanto aos prazos, cada ULS tem autonomia para definir o tempo que o processo de contratação irá demorar.
Quantos médicos são necessários para suprir essa falta de médicos de família?
A associação que representa as Unidades de Saúde Familiares estima que, só este ano, são necessários entre 700 a 1.200 médicos de família.
Um número que é elevado, mas que se explica com a necessidade de compensar aposentações, ausências prolongadas e as saídas do SNS para o privado ou para o estrangeiro, que podem aumentar, face aos atrasos e aos constrangimentos nos concursos.
Mas o plano de emergência para a saúde apresentado pelo Governo não responde a este problema?
No papel, sim, depois falta operacionalizar. O plano para a saúde prevê um regime especial para a admissão de médicos no SNS com mais de 2200 vagas, das quais cerca de 900 para novos médicos de família.
No entanto, a associação que representa as Unidades de Saúde Familiares reconhece que o processo não é tão rápido quanto seria desejável. E, portanto, a intenção é boa, mas no imediato não resolve o problema do acesso dos cidadãos à saúde.