“A maior parte das pessoas tinha uma vida nos seus países que, de um momento para o outro, foi completamente arrancada”, diz Catarina Furtado na Renascença. “Neste momento, temos, no mundo inteiro, 270 milhões de migrantes que andam de um lado para o outro, acrescenta.
Entre refugiados, migrantes e deslocados, os números impressionam. E depois dos números vêm as idades destas pessoas – “há pessoas com 80 anos e há bebés acabados de nascer em condições miseráveis, indignas, muitos dos quais acabam por não sobreviver” – e as histórias.
Catarina Furtado diz ter dificuldade em escolher uma. “Faço entrevistas de três horas e acabo por saber muito sobre a vida destas pessoas. Muito do que dizem passa também olhares. Homens que não estão habituados a falar sentem-se humilhados quando contam que viram os filhos serem atirados às chamas”.
“Na Colômbia, entrevistei centenas de deslocados internos forçados, as pessoas que foram vítimas de guerrilhas. Entrevistei mães cujas filhas, da idade das minhas, foram levadas e violadas consecutivamente”, revela ainda.
Além de “insónias para sempre”, a também embaixadora da Boa Vontade da ONU diz que estas histórias “não causam pena, mas raiva e indignação”. E é por isso não hesita em “apontar o dedo à Europa”.
“A tal bússola da solidariedade está a faltar à Europa”, critica. É para colmatar um pouco esta lacuna e a falta de interesse mediático e político no tema que Catarina Furtado faz este tipo de voluntariado, que transforma em programa de televisão.
“Traz-me paz, porque sei que estou a fazer algo pelas pessoas que conheci. Não houve ninguém que me contasse uma história sem uma réstia de esperança de que eu a contasse também”, diz a apresentadora. É uma espécie de “compromisso e de esperança” de que aquelas histórias, aquela exposição que fizeram de si mesmos, sejam divulgadas.
“Está certo contar estas histórias sem pôr sempre o foco na vítima, mas no contexto. E apontar o dedo, apontar o dedo à Europa. Sou uma espécie de cúmplice destas pessoas que têm voz, mas que não conseguem fazê-la ouvir”, destaca.
“A dor, quando é exposta causa indignação”, acrescenta Catarina Furtado a poucos dias de mais uma temporada do programa “Príncipes do Nada” (na RTP).
“Eu fui à Grécia, ao Líbano, ao Bangladesh, ao Uganda, à Colômbia e o que vi foram pessoas desesperadas por encontrar um pedaço de paz e a quererem nada mais do que comer, pôr os filhos na escola e ter acesso a cuidados de saúde”, resume.
As imagens e as conversas foram gravadas antes da pandemia de Covid-19. Catarina diz que continua a falar com vários refugiados e que, pelo menos na Grécia, as coisas parecem controladas, uma vez que as pessoas estão em ilhas.
Nesta quarta-feira, entrevistada no programa As Três da Manhã, a apresentadora elogia ainda os voluntários portugueses que se encontram nos campos de refugiados e aqueles que contribuíram para que uma organização não-governamental médica pudesse atuar na Grécia, para prevenir e controlar a chegada do novo coronavírus.
Antes, durante o estado de emergência que obrigou ao confinamento de todos, Catarina Furtado falou com Ana Galvão, no espaço diário que a locutora da Renascença tinha no Instagram, No Ar com Ana Galvão. Reveja toda a conversa.