Crise. Medidas “paliativas” do Governo não chegam, diz D. José Ornelas
07-11-2022 - 16:26
 • Teresa Paula Costa

Na abertura da assembleia plenária, o presidente da Conferência Episcopal pediu "políticas estruturais" para ajudar os portugueses vítimas da crise.

As “medidas paliativas” do Governo não chegam para resolver a “grave crise económica” que existe em Portugal, afirmou esta segunda-feira, em Fátima, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

No discurso de abertura da assembleia plenária dos bispos, que começou hoje, D. José Ornelas lembrou que “entre os mais prejudicados” pela pandemia e pela guerra, estão “como sempre os mais vulneráveis”.

O bispo referiu-se às “famílias pobre e de baixos rendimentos, os jovens à procura de emprego, os idosos e agora as famílias de classe média, com grandes taxas de esforço para honrar os compromissos com a habitação e a educação dos filhos os pequenos e médios empresários, que dão emprego a muita gente através dos seus empreendimentos, que veem deteriorar-se a sua vida e o seu contributo para a sociedade, pelo agravamento das taxas de juro e o aumento galopante da inflação”.

Medidas “paliativas” do Governo não chegam

Para o bispo, “as medidas paliativas de emergência tomadas pelo Governo português são importantes para responder ao apoio de emergência, mas é imprescindível realizar convergências de regime com base nos partidos e com consistência parlamentar, a fim de concretizar políticas estruturais, de médio e longo prazo, que permitam mitigar os efeitos da inflação e incentivar o crescimento”.

D. José Ornelas considera que as políticas estruturais devem ter como preocupação “o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e o bem-estar dos cidadãos, com uma mais justa repartição da riqueza.”

“As políticas até agora definidas na Europa e em Portugal podem diminuir algumas consequências, mas ao arrastar-se no tempo, elas não vão resolver os maiores problemas”, defendeu o presidente da Conferência Episcopal.

IPSS correm o risco de falência

Neste discurso, D. José Ornelas referiu-se também ao impacto da crise nas instituições particulares de solidariedade social (IPSS).

“A crise acentua-se, colocando em risco a sustentabilidade destas”, revelou.

Segundo o bispo de Leiria-Fátima, “a justa e imperiosa necessidade de aumentar os ordenados dos trabalhadores destas instituições para fazer face à inflação e aos baixos salários que já recebem, confronta-se com a situação financeira aflitiva em que estas instituições já se encontravam, particularmente devido à pandemia”.

Por isso, “impõe-se uma atenção especial, por parte do Estado, que sustenta apenas uma parte limitada do esforço financeiro destas instituições, de modo que a sua falência não venha agravar a situação das centenas de milhares de pessoas que delas dependem.”

Abusos. “Tem sido um tempo penoso”

No discurso de abertura da assembleia plenária, D. José Ornelas admitiu que “este tem sido um tempo penoso para todos os fiéis”.

Contudo, “tem-se revelado também um tempo de purificação, na busca da justiça, através da concreta identificação dessas situações dolorosas, de modo que não se façam generalizações indevidas, nem acusações indiscriminadas e que os responsáveis de tão condenáveis crimes possam ter também um tratamento justo, nas sedes apropriadas.”

Garantindo “tolerância zero”, o bispo referia-se à investigação aos abusos sexuais por parte da Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

A Comissão “está a finalizar o seu trabalho e, em janeiro do próximo ano, apresentará um relatório conclusivo que nos permitirá conhecer a verdade de um passado doloroso, antes de mais para as vítimas de tais abusos, que a todos nos fere e envergonha.”

Para o bispo de Leiria-Fátima, o relatório da Comissão Independente será “um instrumento fundamental que nos ajudará nesse caminho de definição e implementação de estratégias para mitigar a reincidência dos abusos, em complementaridade com os passos já dados pelas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis e pela Equipa de Coordenação Nacional destas comissões”.

“Quero reafirmar a minha profunda gratidão a todas as vítimas que têm dado, corajosamente, o seu testemunho ao longo dos últimos meses, pela luz que trazem a esta sombria realidade que contradiz a identidade e a missão evangelizadora da Igreja”, disse D. José Ornelas.

“Quero dizer também às vítimas que preferem manter selada no íntimo do coração a sua história que estamos cada vez mais conscientes da dureza da vossa dor, e gostaríamos de poder colaborar convosco na superação destes injustos e, a todos os títulos, inadmissíveis atentados.”

JMJ. Precisamos do "contributo de todos"

Neste discurso, o presidente da Conferência Episcopal aludiu também à Jornada Mundial da Juventude que se realizará em Lisboa, de 1 a 6 de agosto de 2023.

D. José Ornelas assumiu que "nós, os bispos, nos sentimos particularmente convocados para este grande acontecimento", mas apontou que "cada vez mais sentimos que só com o contributo de todos (...) vai ser possível acolher os jovens de todo o mundo".

"Não podemos defraudar esta esperança, não podemos ignorar esta determinação que nos desafia a estarmos com os jovens, a escutarmos o que nos querem dizer, a responder aos seus anseios", acrescentou o presidente da Conferência Episcopal, que reafirmou que a JMJ "não se dirige apenas aos cristãos, mas pretende envolver e contar com a colaboração ativa de quantos se sentem motivados a juntar-se, para sonhar e lutar por um mundo mais humano para todos".

[notícia atualizada às 17h55 com referência à JMJ]