Escolas católicas em dificuldades querem revisão dos contratos de associação
03-10-2021 - 10:00
 • Olímpia Mairos

Uma escola privada com contrato de associação fica mais barata ao Estado em cerca de 3.300 euros por aluno. Só o Colégio de Nossa Senhora da Apresentação em Calvão, na Diocese de Aveiro, “gera uma poupança ao Estado de cerca de 1,3 milhões de euros por ano”.

Se nada for feito algumas escolas católicas correm o risco de encerrar. Em causa está o financiamento do Estado que não é revisto há seis anos.

“Com este magro financiamento há o risco mesmo de encerrarem”, alerta o secretário-geral da Associação Portuguesa de Escolas Católicas (APEC).

Em entrevista à Renascença, Jorge Cotovio lembra que, recentemente, o ministro da Educação explicitou que cada aluno do ensino público custa em média 6.200 euros por ano, mas numa escola privada com contrato de associação esse valor é cerca de metade.

“Existe um diferencial muitíssimo grande, tem que ser alterado. Há escolas com um contrato de associação com perto de dois mil alunos e, por isso mesmo, está a afetar o funcionamento e a preocupar os responsáveis das escolas. Não se entende, de forma alguma, como é que o Estado não vê esta flagrante injustiça que é manter turmas por 80.500 euros, quando nas suas escolas ultrapassam os 150.000 euros por ano”, afirma o responsável.

O secretário-geral da APEC frisa que “são poupanças enormes”, as que o Estado faz com o ensino privado, embora para a opinião pública, passe a ideia contrária, de que o Estado “esbanja dinheiro com o ensino privado”. E dá como o exemplo o Colégio de Nossa Senhora da Apresentação, em Calvão, na Diocese de Aveiro, que “gera uma poupança ao Estado de cerca de 1 milhão e 300 mil euros por ano”.

O conjunto das escolas privadas com contrato de associação, que são sensivelmente 30, geram poupanças à volta de 50 a 60 milhões de euros por ano ao Estado”, concretiza.

Perante estes números, as escolas católicas não compreendem a relutância do Governo em rever os contratos de associação. Jorge Cotovio só vê duas razões para que tal não aconteça: o monopólio do ensino por parte do Estado e uma certa antipatia para com o ensino da Igreja.

“O monopólio do ensino por parte do Estado é uma tentação de um estado totalitário. Nós estamos em democracia, não estamos numa ditadura, mas perdura esta mentalidade que advém do Estado Novo que tanto se critica e que é difícil de mitigar, modificar essa mentalidade”, afirma Jorge Cotovio.

O secretário-geral da APEC admite ainda que “pode haver também alguma antipatia para com o ensino da Igreja, para com os valores cristãos”, considerando que “numa sociedade democrática devemos aceitar todas as ideias, designadamente todas as crenças, aceitá-las e saber conviver com elas”.

Estamos a falar de perseguição?

Subtilmente faz-se essa perseguição, principalmente por questões ideológicas. Quer-se retirar o privado do espaço público e, portanto, o que seja escola privada é unicamente para quem a possa pagar”, afirma Jorge Cotovio, acrescentando que “desta forma, estamos a retirar a possibilidade de famílias carenciadas poderem aceder um ensino diferenciado do figurino estatal, assumindo um direito que todos os pais têm, que é escolher a escola, o tipo de educação que querem para os seus filhos”.

Famílias devem ter opção de escolha

O secretário-geral da APEC espera que haja “bom senso, razoabilidade por parte dos governantes de se alterar o modelo e o montante de financiamento” e lembra que têm fechado escolas católicas com “projetos educativos muito interessantes”, como o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache, o Colégio de Bustos, em Oliveira do Bairro, o Colégio de Nossa Senhora dos Remédios, em Tortosendo, o Colégio de Resende e o Colégio Salesiano de Poiares, na Régua.

“Estavam abertos a populações desprotegidas e tiveram mesmo de fechar, não tinham outra possibilidade, não tinham famílias que pudessem pagar propinas”, assinala.

O responsável alerta ainda que “a nível de Igreja, tem que haver também uma preocupação acrescida relativamente a isto, porque cada escola católica que fecha é como se fosse uma paróquia a encerrar. Nós não podemos perder estas oportunidades de evangelização”.

Além das escolas com contrato de associação, há outras escolas católicas com “contratos simples que vivem com muitas dificuldades e, se o poder de compra dos portugueses não aumentar, há o risco de haver cada vez mais famílias que não podem suportar as propinas e podem fechar”, conclui Jorge Cotovio.

Em comunicado enviado à Renascença, a APEC defende “ser este o momento próprio para um diálogo público, franco e despido de preconceitos, que permita, de boa-fé, a revisão dos modelos organizativos e de financiamento das atuais figuras jurídicas dos contratos de associação, de patrocínio, de cooperação, dos contratos de apoio à família, sejam simples ou de desenvolvimento”.

Só assim, assinala a APEC, permite “um verdadeiro exercício livre de escolha, por parte das famílias, dos projetos educativos que pretendem para os seus filhos, assumindo o Estado o seu financiamento, independentemente do carácter estatal ou não estatal dos estabelecimentos”.