“O Centro Interpretativo do Vinho de Talha (CIVT) vai abrir as portas ao público no próximo dia 11 de novembro, Dia de São Martinho, como espaço de interpretação, de difusão científica e tecnológica e de divulgação do património imaterial relacionado com o saber-fazer daquele produto ancestral”, anuncia o município de Vidigueira, no distrito de Beja.
É um novo equipamento municipal, localizado na freguesia de Vila de Frades, construído de raiz, para, refere a autarquia em comunicado enviado à Renascença, “transmitir aos visitantes as memórias, as vivências e as experiências relacionadas com o vinho de Talha e com as gentes que ciclicamente fizeram chegar esta tradição aos dias de hoje”.
A criação do CIVT surgiu da necessidade de preservar este “saber-fazer ancestral” que, desde a ocupação do território pelos romanos, “certificado pelos achados arqueológicos das ruínas romanas de São Cucufate”, e até aos dias de hoje, “se manteve vivo, norteado pela simplicidade de recursos técnicos utilizados, mas cujo saber e sabor distingue e caracteriza o néctar único produzido artesanalmente em recipientes de barro, as talhas.”
Apesar de ter estado quase a desaparecer no século XX, esta tradição milenar permanece, sendo que o vinho de Talha está a crescer em popularidade e notoriedade, de tal maneira que é reconhecido e certificado pela Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo.
“Ao longo de quase dois milénios, estas gentes conseguiram, inconscientemente, manter uma tradição que pauta os seus dias e vivências. Branco, tinto ou “palhete”, o vinho de Talha atesta um passado vivo, está presente à mesa, nos petiscos, ligado ao cante e ao convívio entre amigos, trabalhadores e família, perpetuando uma identidade que continua enraizada”, sublinha a Câmara Municipal de Vidigueira.
Pelas suas condições e particularidades de fabrico, o vinho da Talha, é um vinho genuíno, que deve ser bebido jovem, uma vez que não passa por barricas de madeira, nem tem adição de produtos químicos.
As características e a história do vinho de Talha estão, a partir de agora, patentes no CIVT, que se desdobra em diversas áreas: o Território, a História Milenar (São Cucufate), a Cultura da Vinha, o Processo do Vinho na Adega e a Taberna.
O novo equipamento apresenta uma narrativa cronológica, permitindo percorrer todo o ciclo, do campo ao vinho, dos romanos à atualidade.
Para tornar isso possível, o município recorreu à tecnologia de realidade aumentada, criando “um layer digital invisível de conteúdos acessíveis por intermédio de tablets” distribuídos pelo itinerário, com “uma voz-off, acompanhada das animações que surgem sobre as ilustrações”, e que dão toda a informação ao visitante.
Para ver, há também um filme, dedicado à temática e um espaço para “despertar os sentidos”, onde todos são convidados “a descobrir cheiros e aromas, os sons da vinha, as paisagens do concelho de Vidigueira, os provérbios e o cante que, em conjunto, formam a alma do vinho de talha.”
A criação deste centro interpretativo está associada à candidatura que o município de Vidigueira criou e lidera, para levar o vinho de Talha a Património da Humanidade. A este projeto associaram-se duas dezenas de outros municípios alentejanos.
Vidigueira propõe visita e prova de vinhos de talha
Até fevereiro do próximo ano, a Câmara Municipal de Vidigueira dinamiza um programa de visita e prova de vinhos de talha, para reunir à volta da mesa, em convívio, amigos e familiares.
Assim, preparou a iniciativa “Entre Talhas e Petiscos”, que reúne uma dezena de restaurantes onde os apreciadores, por marcação, vão poder provar o vinho, degustar petiscos locais e vivenciar experiências únicas.
No concelho de Vidigueira, Vila de Frades é a grande guardiã dos vinhos de talha, preservando até aos dias de hoje este processo de vinificação com técnicas passadas de geração em geração, fazendo com que o vinho de talha se mantenha como um produto único.
Nesta vila começou, em 1987, um certame exclusivamente dedicado ao vinho da talha. A VITIFRADES, é única feira e evento no país, dedicado exclusivamente a esta arte particular de fazer vinho, e acontece todos os anos no segundo fim de semana do mês de dezembro.
A tradição mantém-se e no dia de S. Martinho, o dia da abertura das talhas, é o momento em que amigos e familiares se reúnem à volta de uma mesa, provam os seus vinhos e degustam os produtos locais. Este ano, apesar da pandemia, o ritual repete-se e prolonga-se pelos próximos meses.
Uma formalidade que muitos aproveitam, visitando o Alentejo e juntando-se às gentes da terra, para provar o vinho e viver novas experiências.
É este o convite do programa “Entre Talhas e Petiscos”, que se desenrola com todos os cuidados de segurança, exigidos por força do tempo que se vive.