"O que temos de fazer é aliviar a dor da pessoa que quer morrer". É desta maneira que o cardeal D. Juan José Omella resume o que pensa da legalização da eutanásia em Espanha. A lei entrou em vigor naquele país há, precisamente, dois anos e o arcebispo de Barcelona pede que se aposte tudo em cuidados paliativos.
O presidente da Conferência Episcopal de Espanha (CEE) está em Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Esta segunda-feira deu uma conferência de imprensa sobre os jovens peregrinos espanhóis que estão inscritos para o evento.
Foi após esse encontro com os jornalistas no centro de imprensa da JMJ, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, que o arcebispo de Barcelona falou brevemente com a Renascença sobre a legalização da eutanásia em Espanha e em Portugal, facto que considera um "retrocesso".
De braço partido e coberto com gesso, na sequência de uma recente queda sofrida em Roma, a caminho do Vaticano, o cardeal Omella começa por dizer que "a eutanásia não significa progresso, pelo contrário, é um retrocesso", acrescentando que o que é preciso é "defender sempre" a vida, "desde que se nasce até que se morre".
O arcebispo de Barcelona refere que "a vida é um dom" e que, embora sendo "certo que à medida que a esperança de vida aumenta há muita dor", a solução é "aliviar a dor da pessoa que quer morrer".
Resumido: "Quando um doente tem cuidados paliativos para aliviar a dor não quer morrer."
A lei que legaliza a eutanásia em Espanha entrou em vigor a 25 de junho de 2021 e, segundo a imprensa espanhola, os casos de morte medicamente assistida no país vizinho já ultrapassaram os 300.
Questionado sobre qual é a experiência espanhola e quais são os números ao certo, o presidente da CEE responde seco: "Não tenho os números, porque tão pouco os publicam", deixando implícita uma crítica às autoridades espanholas pela falta de dados oficiais sobre os pedidos e mortes por eutanásia.
O cardeal Omella diz-se preocupado "porque se mata a esperança quando o que devíamos fazer é o inverso, aliviar a dor com cuidados paliativos". Isto é que "é muito importante e, às vezes, não cuidamos disso".
Trata-se de um debate em tudo semelhante ao que foi existindo nos últimos anos em Portugal, na sociedade civil e no Parlamento, com diversos setores a pedir mais investimento em cuidados paliativos antes de se avançar para esta prática.
Em Portugal a despenalização da morte medicamente assistida foi promulgada pelo Presidente da República, em maio deste ano, e está agora à espera de regulamentação por parte do Governo, entregue às tutelas da Saúde e da Justiça.
Perante este cenário e questionado sobre como recebeu a notícia da despenalização da eutanásia em Portugal, o cardeal Omella é taxativo: "é uma má notícia em Portugal e em qualquer parte do mundo".
Para o arcebispo de Barcelona, "temos de ser mais respeitadores com o ser humano, com a pessoa e com a vida". E retomando a ideia inicial da vida como "dom", o cardeal Omella fecha a conversa dizendo que "não somos donos, temos de cuidar e respeitar o que nos foi dado como dom".
Antes de despedir-se da Renascença, o cardeal Omella ainda insistiu na ideia de que "o doente que se sente acompanhado e não sente dor goza o facto de ter a família por perto e sente-se acompanhado à espera da morte como se espera qualquer final de vida".
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