O historiador Rui Tavares destacou hoje a capacidade de persistência do Livre, que recentemente regressou à Assembleia da República, insistindo na convergência à esquerda e prevendo "campos cheios de papoilas", símbolo do partido.
"Alguns de nós falaram de que tínhamos visto as primeiras papoilas a aparecer ainda neste Inverno, aquelas mais teimosas, mais persistentes, aquelas mais precursoras. Nós sabemos que vinda esta primavera os campos do nosso país se vão encher de papoilas", declarou o fundador do partido Rui Tavares, no discurso de encerramento do XII Congresso do Livre.
Perante uma plateia cheia, numa das salas do Convento de São Francisco, em Coimbra, Rui Tavares elogiou o trabalho dos órgãos nacionais cessantes, que conseguiram ultrapassar os "períodos mais cheios de peripécias da história do partido", destacando a sua "persistência, integridade e entreajuda extraordinária".
"É a primeira vez que um partido à esquerda, fundado já no novo milénio, e que não tem raízes nos anos 70, chega à Assembleia da República e não só uma, mas duas vezes, muito obrigado por tudo o que fizeram", acrescentou.
Rui Tavares foi recentemente eleito deputado para a Assembleia da República, marcando o regresso do partido ao parlamento, depois do processo de retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira, que levou à perda de representação parlamentar em 2020.
Com representantes do PS, BE, PCP, PAN e PEV a ouvir o seu discurso, Tavares mostrou vontade de ver o partido crescer de dentro "para fora, em convergência com os partidos da esquerda, do progressismo e da ecologia e também em abrangência com toda a sociedade civil".
No seu discurso, Rui Tavares voltou a destacar aquela que será a primeira proposta do partido quando tomar posse na Assembleia da República, sobre a pobreza energética no país.
"É um tema que não nos preocupa só a nós, que preocupa também outros partidos que vão estar na metade esquerda do parlamento connosco. É altura de dar passos decisivos para que toda a gente que tem menos disponibilidade financeira possa viver em conforto e em dignidade nas suas casas", defendeu.
Esta foi uma das bandeiras programáticas do partido em campanha nas legislativas, que na altura propunha "um programa de incentivos de comparticipação financeira a 100% até ao limite de 100 mil euros para edifícios existentes, do Plano de Recuperação e Resiliência, aplicados de forma célere ao simplificar os procedimentos administrativos necessários".
"Os fundos do PRR vão ser revistos tendo em conta o desempenho económico de cada país da União Europeia. E pelos nossos cálculos, Portugal vai receber mais dinheiro do PRR. Na Assembleia da República apresentaremos uma resolução para que esses novos fundos do PRR que acrescem àqueles que já estão alocados sejam dirigidos precisamente para combater com um programa desburocratizado, que seja de fácil acesso à população, o desconforto térmico, a pobreza energética", declarou.
Tavares referiu ainda que a reunião magna do partido acontece "num momento em que a guerra voltou à Europa", numa referência à situação de conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
"E o nosso partido foi fundado com o símbolo da papoila porque ele tradicionalmente em Portugal é símbolo de generosidade, de fertilidade, e por isso o escolhemos. Mas também por questões europeias: a papoila que, entre as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, fazia cem anos quando fundámos o Livre crescia e dava esperanças de paz e de unidade neste continente", disse.
Hoje, continuou, "perante a ameaça do neoimperialismo, a resposta tem que ser a unidade europeia", mas segundo Tavares esta unidade tem que ser democrática e "do estado do direito em todos os estados-membros da UE sem exceção".
Depois de um congresso em que pela primeira vez o partido teve duas listas candidatas ao Grupo de Contacto (direção) e ao Conselho de Jurisdição, tendo sido eleitos membros de ambas as equipas, Tavares deixou um apelo à união.
"O que importa é os órgãos que temos daqui para a frente", disse.
Momentos antes, também no púlpito, a "número um" pela lista vencedora da direção do partido, a dirigente Teresa Mota, sublinhou a vontade e disponibilidade para trabalhar com todos os membros da atual direção.
"A convergência sempre foi uma marca estrutural deste partido e da nossa parte continuará a ser", frisou.
Também Miguel Bento, da lista "B", disse que este é "um momento de viragem" para o Livre, acrescentando que a partir de hoje o Grupo de Contacto "é um só".
Em representação de outras forças políticas estiveram presentes Nuno Moita, presidente da federação distrital do PS de Coimbra e Miguel Costa Matos, secretário-geral da Juventude Socialista, o deputado do BE José Manuel Pureza, João Pires (PCP), Marta Correia (PAN) e Teresa Costa e Paulo Coelho (PEV).
O congresso terminou ao som da música "Grândola, Vila Morena", do cantor de intervenção antifascista, José Afonso.