D.Américo Aguiar na Ucrânia. "Trazemos a oração para reforçar o seu poder, não para matar, mas para salvar"
17-07-2023 - 15:33
 • José Pedro Frazão com Renascença

Bispo auxiliar de Lisboa passou por Bucha e Irpin onde pediu ajuda para os jovens vítimas da guerra.

Está quase a chegar ao fim a viagem de D. Américo Aguiar pela Ucrânia. O bispo auxiliar de Lisboa e também presidente da Fundação da Jornada Mundial da Juventude esteve, nos últimos dias, em contacto com jovens ucranianos, impedidos de viajar até Lisboa para participar na JMJ.

Na manhã desta segunda-feira, D. Américo Aguiar esteve nas zonas que foram tomadas pelos russos na tentativa de conquistar Kiev, passando por zonas como Bucha e Irpin. Em Bucha, esteve no espaço onde foram depositados corpos em valas comuns e aí encontrou-se com o sacerdote ortodoxo da igreja a que pertence esse terreiro, que agora foi transformado numa espécie de memorial às vítimas da ocupação russa.

No local, trocou um ícone da JMJ com o sacerdote ortodoxo e aproveitou a ocasião para relembrar que a sua viagem é uma tentativa de confrontar a falta de munições com a solidariedade e amor que trouxe consigo na bagagem.

"Este grito grande que eu trouxe - como a Jornada tem o lema 'Maria levantou-se e partiu apressadamente', e levou Cristo ao encontro da prima Isabel - eu trago Cristo vivo ao encontro destes jovens", explica D. Américo Aguiar, que adianta também deles recebe. "Recebo deles com sangue, com muito sofrimento, esse testemunho de Cristo vivo", diz.

No mesmo momento, teve oportunidade de tirar do bolso algumas munições usadas que lhe tinham sido entregues e colocou um terço da JMJ sobre elas, uma imagem forte que fez questão de explicar.

"Queremos reforçar o poder bélico dos ucranianos com a oração. É o que trazemos cá, trazemos a oração para reforçar o seu poder, não para matar, mas para salvar, para reconstruir e para que isto não volte mais a acontecer", reforça.

Em Irpin, o bispo auxiliar de Lisboa esteve numa igreja também greco-católica que sofreu um ataque e onde 20 paroquianos se esconderam durante cerca de dez dias nas catacumbas, rezando, refugiados à ocupação russa. Aí, recebeu um fragmento de um míssil que caiu junto à Igreja. O padre local pediu-lhe, então, que o fragmento fosse levado para a Conferência Episcopal Portuguesa, para que os bispos portugueses possam "tocar nos estragos" feitos pelos russos.

Também esteve numa escola que está a ser reconstruída e aproveitou a oportunidade para reiterar que a educação é essencial, deixando um desafio aos autarcas portugueses.

"Eu sei que temos dificuldades no nosso país, mas também sei que é sempre com o pouquinho de quem tem pouco que se consegue fazer muito... Por isso, apelava que os nossos autarcas, as nossas autoridades, dentro das suas possibilidades, com o pouquinho de cada um, possam acelerar estas obras e estas reconstruções para que as novas gerações não prolonguem no tempo aquilo o sofrimento", defende. Para o bispo auxiliar, as escolas têm de "rapidamente recuperar a sua função" para ajudar a "fazer esquecer a maldade e a crueldade daquilo que aconteceu".

D. Américo Aguiar já seguiu, no entretanto, para Kiev e vai partir esta noite para a Polónia. Em jeito de balanço, recorda os momentos emotivos que viveu à chegada à Ucrânia, em Lviv, voltando a emocionar-se ao recordar o funeral de um soldado que teve a presença do seu filho. Admite que não será a mesma pessoa depois desta viagem.

"Nao me sai da mente nem do coração o jovem no cemitério a receber a bandeira do caixão do pai", recorda, emocionado. "O nosso desafio é esse: que estes meninos, estes jovens não se queiram vingar. Não é fácil", lamenta, reforçando que "temos de ajudar" as crianças marcadas pela guerra "para que a vingança não seja o dia a dia deles".