O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, diz que é preciso "levar a sério" a Constituição.
“Nós estamos na frente da vida e acreditamos que, como diz a nossa Constituição, o direito à vida humana é inviolável. E levamos isto a sério. Não é por acaso que isto está na Constituição da República, mas é preciso também estar na vida e na prática das pessoas e das instituições”, disse D. Manuel, na homilia da eucaristia a que presidiu este domingo, na Igreja de Santo Antão do Tojal, em Lisboa.
D. Manuel Clemente declarou-se triste pela aprovação da lei da eutanásia e garantiu que a Igreja se manterá na “frente da vida”.
O patriarca de Lisboa disse que nem sempre é fácil enfrentar certas situações e apelou a que não se desista mesmo quando existe essa tentação: "Todos nós sabemos que não é fácil, mas também sabemos que não podemos desistir."
“Não podemos desistir e eu quero saudar todos os membros que aqui estão das instituições que lutam pela vida porque eles são os primeiros a não desistir no dia a dia, quer nas posições que tomam formalmente quer nas posições que tomam realmente no dia a dia das suas vidas e dos seus serviços”, acrescentou.
D. Manuel Clemente pediu realismo na forma como olhamos para a vida. "A vida é apresentada não só aos mais novos, mas àqueles que são novos há mais tempo, como um mar de rosas desejável em que tudo correrá bem, em que tudo correrá sem dificuldades, sem obstáculos intransponíveis, mas não é assim, a vida não é assim."
"É muito bom que todos nós, desde pequenos, sejamos postos diante da realidade da vida, que é uma vida que tem muitas contradições, tem momentos de felicidade momentânea porque tudo corre bem e responde imediatamente ao nosso desejo. E há momentos em nós e nos outros em que as coisas não correm bem e, fisicamente, até correm muito mal”, notou, advertindo, se seguida: "Mas nem por isso deixa de ser vida. E o que a religião cristã nos ensina - ou seja, a vida de Cristo nos demonstra - é que o próprio Deus assumiu este destino humano e o viveu em Jesus Cristo e não se eximiu a nada."
A resposta para todos estes casos “é a companhia e a presença” porque “viver é conviver”.
“A resposta é a companhia. A resposta é a presença. Isto é muito difícil e requer que nós façamos também uma reconversão social em relação à vida que nunca a ponha em causa desde a gestação até à morte natural. Mas que seja acompanhada porque muitas pessoas desistem de viver porque estão sós e não suportam viver sozinhas aquilo que a vida lhes oferece. E é tão triste e tão duro. Precisam de companhia. Viver é conviver”, exortou.
O cardeal de Lisboa considera necessário "olharmos para o rosto uns dos outros, sobretudo dos nossos irmãos que precisam da nossa companhia”, pois “é assim que nós responderemos mesmo aos desvios legais porque também podem ser corrigidos mais à frente se nós crescermos neste caminho”.