Há mais de 50 anos que João Ferreira e António Moreira são amigos e parceiros de café. A Renascença encontrou-os, ao final da manhã de uma segunda-feira, à mesa de uma pastelaria, em Braga. É assim todos os dias. Nem um nem outro está disposto a abdicar do hábito, apesar de sair mais caro.
“É raríssimo dispensar, só quando não posso mesmo ir ao café. Já é um tipo de droga”, brinca António. "Não dispenso o café há muito anos”, apesar de estar “mais caro”, o que “na reforma nota-se”.
“Tomo, pelo menos, dois cafés por dia. E quando trabalhava chegava a tomar seis e sete", conta João Ferreira que sobre o atual preço justifica: “Temos que acrescentar o açúcar, o transporte... Tudo isso conta."
“É o petróleo e a guerra e não sei quê. Compra-se qualquer coisa, é o petróleo, é a guerra e não sei quê. A guerra, o petróleo são justificação para qualquer aumento”, atira António.
Na pastelaria de Maria do Céu, desde dia 1 que o café custa mais cinco cêntimos e a empresária conta que já recebeu o aviso dos fornecedores de que 2024 poderá trazer novos aumentos.
“Pelo menos, eles [os fornecedores] dizem que o cenário é um bocadinho negro. Dizem que o café vai aumentar bastante. Agora, não sei se é só especulação ou se é verdade”, atira Maria do Céu, lembrando que já em 2023 o café “sofreu dois aumentos, em novembro e em maio”.
Cenário idêntico encontramos no estabelecimento de Salete Ferreira. Aqui, o café passou dos 85 para os 90 cêntimos. Ainda assim, a proprietária garante que a subida do preço não compensa todos os aumentos.
O problema, diz Salete, não é só o café. “O problema é que temos a luz, a água, o aumento dos aluguéis das lojas. Temos também o aumento do produto”, enumera. “Muita gente grita por causa dos cinco cêntimos a mais, mas com o aumento que houve em tudo, os 5 cêntimos estão mais que justificados”, garante. No entanto, Salete conta que, com o aumento do custo de vida, “ muita gente deixou de tomar café em 2023”. Mas, garante, “quem gosta de um verdadeiro café, de um bom café, não troca”.
O café terminou 2023 quase 12% mais caro, nos mercados internacionais. A insegurança no Mar Vermelho, que está a obrigar os navios a desviarem rotas, é uma das justificações para o aumento do preço ao consumidor que por cá, em regra, está mais caro cinco cêntimos desde o início do ano.
O preço do café terminou 2023 quase 12% mais caro - os fornecedores alertam que 2024 poderá trazer mais aumentos.