Fogos de outubro de 2017. É o segundo Natal sem casa para mais de mil pessoas
19-12-2018 - 06:47
 • Liliana Carona

Vão passar esta quadra em anexos ou garagens emprestadas. A reconstrução das habitações destruídas está por concluir, nuns casos, mas noutros, nem sequer começou.

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Arganil, Oliveira do Hospital, Tábua, Santa Comba Dão, Seia, Penacova, Poiares e Nelas são os concelhos mais afetados pelos incêndios de outubro de 2017, onde várias famílias voltam a passar o Natal, em anexos ou garagens emprestadas.

O total é de 400 famílias, a que correspondem a mais de mil pessoas, que perderam as casas nos incêndios de outubro de 2017. Nuns casos, a reconstrução está por concluir, noutros ainda nem sequer começou.

Bolo-rei, vinho, compotas e bacalhau, aos quais se hão-de juntar outros produtos, estão nos 400 cabazes de Natal que o Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM) vai distribuir nos próximos dias. “Existem pelas nossas contas, cerca de mil pessoas que não têm casa, até ao momento, e estão em casa emprestada, em garagens, anexos, barracões, roulotes... São cerca de 400 famílias”, revela Nuno Pereira, da MAAVIM.

Aos 29 anos, o brasileiro Washington Antunes trabalha rápido na reconstrução da vida de Maria José Garcia, 68 anos, que perdeu a casa, sonhada em 1984, em Chamusca da Beira, Oliveira do Hospital.

Maria vive num anexo, uma espécie de cozinha, com o marido, António Garcia, 70 anos. “Condições não há. Isto é um bocadinho...”, diz. A mulher lamenta: “Nunca pensei que passasse aqui outro inverno e outro Natal. Perdi tudo, não tinha nada, zero”

Do zero também teve que começar o casal Esmeralda e João Tiago Gonçalves, ambos com 60 anos. Vivem em Tábua, na povoação de Venda da Esperança, numa garagem emprestada. “É muito húmido, mas hoje fui à Câmara e sei que vão começar a casa. Andaram a enrolar, a enrolar, a enrolar e só agora me disseram que tinha que fazer projeto. Fui pedir emprestado 1.800 euros”, lamenta Esmeralda.

João Tiago, doente, dorme num quarto com humidade que escorre pelas paredes. “É impossível ver assim a minha casa, vêm-me as lágrimas aos olhos... Ficámos só com a roupa do corpo”, queixa-se.

Os desejos de Natal, por enquanto adiados, serão, talvez, concretizados lá para a Páscoa. “Eles prometem para a Páscoa... A casa pronta...”, diz esperançado António Garcia.

Esmeralda queria voltar a ser a anfitriã da festa natalícia: “Gostava de passar o Natal em minha casa com filhos e os netos, com todos, mas não foi possível”.

Maria José só pede um presente de Natal: “Só a minha casa, não queria mais nada. Quando tiver a minha casa a vida será muito diferente”, conclui.

Os incêndios de outubro de 2017, centrados no dia 15, um domingo, provocaram a morte de 50 pessoas, além de 70 feridos. Atingiram cerca de 220 mil hectares de território, dos quais 190 mil de floresta, perto de 1.500 casas e centenas de empresas.