O Relatório Anual sobre Drogas, divulgado esta terça-feira em Bruxelas pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, revela que o número de mortes por "overdose" aumentou na Europa pelo terceiro ano consecutivo e há ameaças crescentes decorrentes do consumo de novas substâncias ilícitas.
“O impacto do problema das drogas continua a ser um desafio significativo para as sociedades europeias. Mais de 93 milhões de europeus experimentaram uma droga ilícita em algum momento da sua vida e as mortes por 'overdose' continuam a aumentar, pelo terceiro ano consecutivo”, afirmou o comissário Dimitris Avramopoulos, responsável pela Migração, Assuntos Internos e Cidadania.
“Estou particularmente preocupado com o facto de os jovens estarem expostos a muitas drogas novas e perigosas”, sublinhou o comissário europeu que participou no lançamento do relatório, juntamente com os dois responsáveis do Observatório. O relatório geral é completado pelos relatórios nacionais com resumos dos fenómenos associados à droga em cada país.
Estima-se que tenha ocorrido na Europa (nos 28 estados-membros mais a Turquia e Noruega), em 2015, um total de 8.441 mortes por "overdose", relacionadas sobretudo com o consumo de heroína e outros opiáceos. Este número corresponde a aumento de 6% em relação às estimativas de 7 950, em 2014. O aumento de mortes foi registado em quase todos os grupos etários e a Alemanha, Lituânia, Suécia, Holanda, Reino Unido e Turquia são os países que registaram aumento de "overdoses".
Em 2015, houve 40 mortes por "overdose" em Portugal, um número que aumentou nos últimos anos analisados (2013-2015), de acordo com o relatório relativo a Portugal.
Segundo o Observatório Europeu das Drogas, as novas substâncias psicoactivas continuam a ser um desafio considerável para a saúde pública na Europa. Em 2016, foram detectadas, pela primeira vez, 66 novas substâncias psicoactivas através do Sistema de Alerta Rápido da UE — o que corresponde a mais de que uma substância por semana.
O relatório constata que há um abrandamento do ritmo de introdução de novas substâncias no mercado - já que em 2015, foram detectadas 98 substâncias -, mas ainda assim o número total de substâncias actualmente disponíveis permanece elevado. A menor frequência de novas detecções na Europa pode ser atribuída a uma série de factores como por exemplo a legislação introduzida em alguns Estados-membros.
Outro ponto de preocupação prende-se com o consumo de opiáceos sintéticos. Segundo o Observatório, na Europa, como na América do Norte, os opiáceos sintéticos altamente potentes, que imitam os efeitos da heroína e da morfina, são uma ameaça crescente para a saúde. Entre 2009 e 2016, foram detectados 25 novos opiáceos na Europa. O relatório sublinha que são necessárias apenas pequenas quantidades para produzir milhares de doses de rua, a partir destas substâncias.
O relatório destaca ainda que as drogas estimulantes ilícitas mais consumidas na Europa são a cocaína, o ecstasy e as anfetaminas, acrescentando que o consumo de cocaína é mais elevado nos países ocidentais e do sul da Europa (reflectido em portos de entrada e rotas de tráfico), enquanto que o consumo de anfetaminas é mais proeminente nos países do norte e do leste europeu.
O observatório analisa também o consumo da canábis. Cerca de 87,7 milhões de adultos europeus (15-64 anos) já experimentaram canábis em algum momento da sua vida. Destes, estima-se que 17,1 milhões de jovens europeus (15-34 anos) terão consumido canábis nos últimos 12 meses.
Em Portugal, o número de consumidores de drogas ilícitas entre a população adulta em geral diminuiu na última década. As outras drogas mais consumidas são o ecstasy e a cocaína.
O recurso a substâncias ilícitas é mais comum entre os jovens adultos, em Portugal. Das pessoas entre os 15 e os 34 anos 5,1% consumiram canábis nos últimos 12 meses – entre aquela faixa etária, 0,6% consumiram ecstasy, 0,4% cocaína e 0,1% anfetaminas, no último ano analisado pelo relatório.
Calcula-se também que haja quase 31 mil consumidores de opiáceos de alto risco no país. Cerca de 17 mil pessoas estão em tratamento de substituição. Houve 44 infecções por VIH/sida atribuídas ao consumo de drogas injectáveis.