A NATO é uma "aliança defensiva" concentrada na dissuasão e apenas tomará medidas para intimidar a Rússia se existir uma ameaça russa contra a organização, disse em entrevista à Lusa a secretária-geral adjunta da NATO.
"Quero sublinhar as palavras defesa e dissuasão. Por vezes veem-se histórias mediáticas vindas de Moscovo, de que a NATO quer invadir a Rússia. Não é de todo o caso. A NATO é uma aliança defensiva. Estamos concentrados na dissuasão e na defesa e de nenhuma forma tomaríamos medidas para ameaçar a Rússia, exceto se tivermos de responder a uma ameaça da Rússia contra nós", referiu Rose Gottemoeller, que na quinta e sexta-feira efetuou uma visita oficial a Lisboa.
A responsável disse que a NATO está a seguir "com muita atenção" a crise em torno do tratado bilateral sobre armas nucleares de curto e médio alcance (INF), assinado em 1987 entre os EUA e a União Soviética, mas que Washington ameaça agora abandonar por acusar Moscovo de o violar.
"Fomos claros para os russos: apesar de os Estados Unidos terem notificado a sua intenção de se retirarem do INF, ainda faltam seis meses para a Rússia regressar e cumprir o Tratado", sustentou.
Rose Gottemoeller deixou, no entanto, uma advertência: "Se não o fizerem e o INF for anulado, então teremos de pensar com cuidado nas medidas de defesa e dissuasão que tomaremos".
Ainda assim, assegurou que a NATO será "muito cuidadosa e sensata" na resposta: "Podem existir várias hipóteses, não pretendo especular, mas decerto que seremos contidos na nossa resposta ao fim deste Tratado".
Apesar de se escusar a considerar a Rússia uma "ameaça" latente para o ocidente, a secretário-geral adjunta da NATO recordou que Moscovo "anexou a Crimeia em 2014 e começou a destabilizar a região do Donbass [leste da Ucrânia]".
Acusou ainda o Kremlin de ter começado "a instalar novos recursos militares na Europa, incluindo em Kalininegrado, que está situado no coração, entre a Polónia e a Lituânia, e perto da Alemanha, todos Estados-membros da NATO".
"Infelizmente assistimos à modernização das capacidades militares da Rússia e a NATO tem de adotar métodos de defesa e dissuasão", adiantou.
Numa referência às acusações de Moscovo sobre o alegado desrespeito pela NATO de uma "promessa" de que não se iria expandir em direção ao leste após o fim da União Soviética, a responsável norte-americana admitiu "ter escutado esses argumentos, vindos de alguns historiadores russos", mas vincou: "Não existe nada que o confirme, de facto esses compromissos nunca existiram".
Gottemoeller assegurou ainda que um eventual alargamento da NATO a outros países europeus, como a Suécia ou Finlândia, está dependente de eventuais decisões dos respetivos governos de pedir a adesão à NATO. "Terão o direito de o fazer, mas nunca pediram", frisou.
Sobre o recente anúncio do Governo da Polónia, um Estado-membro da NATO, de um investimento em armamento de cerca de 43 mil milhões de euros até 2026, justificou-o com a necessidade "de uma forma cautelosa e ponderada" de modernização das forças militares da Aliança.
"Muitos dos nossos aliados que são antigos membros do Pacto de Varsóvia ainda possuem equipamento dessa época, e proveniente do período da União Soviética. Agora necessitam de se modernizar e livrar desse equipamento obsoleto", disse, sublinhando que o objetivo é de dissuasão e defesa: "Não são missões ofensivas que a NATO está a promover", assegurou.
Sobre as alegadas divergências entre os Estados-membros aliados da NATO, em particular após a vitória eleitoral de Donald Trump em 2016 e a emergência de governos populistas de direita no leste europeu, Gottemoeller admitiu "diferenças políticas" entre aliados europeus, e entre europeus e norte-americanos.
"É a realidade da Aliança desde a sua fundação. Mas quando se trata de aspetos importantes, assegurar a defesa mútua, apoio mútuo em tempos de crise e conflito, aí não existe ausência de consenso.... Estamos na iminência de cumprir o nosso 70.º aniversário, e prevejo pelo menos mais 70 anos".