A semana que fechou a série de debates pré-eleitorais ficou presa a três historietas de embalar – o ziguezague de Pedro Nuno Santos no tema das condições de governabilidade, as condições reais do arrendamento da avó de Mariana Mortágua e, mesmo a fechar, os ‘tiros’ que André Ventura anunciou ao mundo em voz alta e que, afinal, teriam sido sons mecânicos de um veículo da caravana do seu partido. Uma barrigada de entretenimento, portanto. Coisas que nos fazem prestar atenção, que nos fazem sorrir e que, possivelmente, são bons motivos de arranque de conversa entre amigos e familiares ou oportunidades para ‘dizer duas ou três’ nas redes sociais. Muito pouco disto é realmente relevante e muito pouco disto sobreviverá mais do que uns meses na nossa memória. Mas não é isso que importa, naturalmente, para quem ganha notoriedade navegando um ciclo auto-alimentado de episódios apelativos capaz de nos manter distantes do que realmente seria relevante discutir.
Neste contínuo político-mediático (como tão bem o definiu Pacheco Pereira há algumas semanas) corre risco o Jornalismo, porque sucumbe a um agendamento não seu, correm risco os políticos que acreditam nas virtudes frágeis da Democracia, porque não se desprendem da tentação de viver na vertigem dos apelos emocionais, e corremos risco nós, cidadãos, porque não conseguimos distinguir sinais límpidos no meio de tanto ruído.
Um desses sinais aumenta de volume, por estes dias, no fluxo da rede social que mais atrai a atenção dos portugueses mais jovens – o TikTok. Numa visita breve aos perfis dos partidos com assento parlamentar ou dos seus líderes percebemos que a força política mais popular é o Chega, com cerca de 33 mil seguidores, e que o dirigente que agrega maior adesão é André Ventura, com cerca de 212 mil (a deputada Rita Matias tem mais do que o partido). Por contraponto, a Aliança Democrática tem 1400 seguidores (o PSD tem mais 100) e o Partido Socialista tem quase 1800; Luís Montenegro não terá perfil individual e Pedro Nuno Santos é seguido por pouco mais de 1300 pessoas.
O contraste é surpreendente e pode até ser explicado de forma muito razoável pelas equipas que gerem as campanhas dos grandes partidos – a maioria dos ‘seus’ eleitores serão pessoas não tão jovens, que preferem interações através de canais tradicionais ou de redes como o Facebook ou o Instagram.
Apesar disso, continua a parecer pouco sensato tratar com tanto descuido a rede social que mais cresce em Portugal (e no Mundo) e que já tem um número estimado de utilizadores acima dos 3.5 milhões.
Sendo verdade que muitos dos jovens que passam, agora, minutos gordos todos os dias a dedilhar um fluxo carregado de mensagens tendencialmente favoráveis a um partido (e a uma forma muito particular de entender a presença na vida política) não vão ainda votar no dia 10 de março, não será menos verdade que isso pode vir a acontecer daqui a muito poucos anos. E, como diz o ditado popular ‘onde nasce a lagarta, aí se farta’.