A Federação Nacional de Educação (FNE) divulga esta quinta-feira o balanço do ano letivo 2020-2021 e divulgar os resultados da última consulta nacional aos docentes e não docentes, em que avaliou as condições do último ano escolar.
Num ano letivo novamente marcado por dificuldades e condições excecionais que provocaram impactos não só ao nível do ensino e educação, mas também a nível social, das quatro mil respostas ao inquérito, conclui-se, desde logo, que a grande maioria dos professores e funcionários trabalhou além do horário estabelecido.
“O regresso à atividade letiva presencial significou o crescimento do tempo de trabalho, a ultrapassagem dos limites do tempo de trabalho que estão definidos por lei e, muitas vezes, com pedidos das escolas feitos durante aquilo que deve ser o período de descanso das pessoas, aquilo que deve ser o tempo de vida familiar”, adianta à Renascença, João Dias da Silva.
O secretário-geral da FNE refere ainda que o ano alternado em aulas presenciais e à distância trouxe muitas desvantagens para alunos e professores, admitindo que muita matéria ficou perdida.
“Se é certo que esmagadoramente as escolas realizaram, estabeleceram planos de intervenção, a verdade é que há um número muito significativo de professores que diz que as escolas não tiveram condições para concretizar os planos de intervenção que tinham idealizado e um número muito significativo de professores diz mesmo que não teve acesso aos apoios de que precisou para o trabalho que quis desenvolver com os seus alunos”, explica.
Mais meios para recuperar tempo perdido
Muitos professores queixaram-se, por exemplo, de casos de alunos que, em ensino à distância, não tiveram acesso à internet ou a um computador. Por esse motivo, este responsável avisa que se voltar a ser necessário regressar às aulas à distância, o Governo tem de garantir que estão reunidas todas as condições.
Mas as exigências não ficam por aqui. João Dias da Silva insiste que são precisos mais meios e recursos para recuperar o tempo perdido até porque, sublinha, no ano letivo anterior, os apoios do Governo não serviram para muito mais que material sanitário.
“É preciso que as escolas também tenham acesso aos recursos e é preciso que não se repita aquilo que aconteceu também no ano letivo anterior”, defende João Dias da Silva, acrescentando que “a esmagadora maioria, uma grande quantidade de dinheiro que foi alocada à resposta das escolas para a pandemia acabou por ser gasto em máscaras, em aventais, em álcool e não houve dinheiro para a atribuição de outros recursos às escolas, nomeadamente mais professores, mais técnicos especializados e mais computadores”.
Outro dos dados revelados nesta consulta nacional feita a docentes e não docentes diz respeito ao cumprimento das regras de segurança nas escolas. E o secretário-geral da Federação Nacional de Educação admite que fora das salas de aula, as máscaras foram muitas vezes colocadas de parte.
De acordo com João Dias da Silva, havia uma norma que os docentes e não docentes sabiam à partida que não ia ser cumprida, que era o “distanciamento físico, pelas mais variadas razões, desde logo o facto de as turmas não terem sido diminuídas, o número de alunos dentro da sala de aula se ter mantido e de ter havido a partilha dentro da escolas dos objetos de trabalho, dentro da sala de aula”, realçando que “particularmente o uso da máscara fora da sala de aula é um dos aspetos que é referido ainda nesta fase como um elemento de preocupação”.
Na entrevista, João Dias da Silva mostra mesmo alguma preocupação com a possibilidade de, no final de setembro, acabar a obrigatoriedade do uso de máscaras, uma das medidas que está prevista no plano apresentado pelos especialistas, na passada terça-feira, na reunião do Infarmed.
O secretário-geral da FNE deixa o alerta para o inverno e lembra que as salas de aula nem sempre garantem o distanciamento entre alunos.