Numa sala à pinha, com gente em pé aqui e ali, no habitual hotel em Lisboa que o PSD escolhe para os eventos do partido, Luís Montenegro fez o "apelo último" ao primeiro-ministro para "acabar com a balbúrdia política e institucional" que considera estar instalada no país.
O líder social-democrata, perante dezenas de autarcas do PSD de todo o país, chamou António Costa a jogo: "se entende que é a permanecer impávido e sereno longe da arena, desaparecido em combate, a casa arde, mas o dono da casa está fora, se acha que é isto que vai induzir o país a acreditar no futuro, então mais vale mudar de primeiro-ministro".
No 3º encontro de autarcas do PSD, onde está presente, por exemplo, o presidente da Câmara de Lisboa, Luís Montenegro referiu-se à crise política dos últimos dias provocada pelo caso Galamba e que classifica como "pântano".
Acabar com o drama político que se tem vivido nas últimas semanas "está nas mãos de António Costa", resume o líder do PSD que aconselha o primeiro-ministro a usar "os instrumentos à disposição. É afamado em termos de habilidade política, use-a. E convém dizer que ser hábil não é ser habilidoso. Ser hábil é resolver, habilidoso é ludibriar, resolva os assuntos", apelou.
Sem nunca pronunciar o nome de João Galamba, o ministro que o PSD quer ver demitido na sequência dos incidentes em torno da recuperação de um computador e que envolveu as secretas, Luís Montenegro assume que é preciso perceber "porque é que o SIS foi chamado", mas "há uma coisa mais importante" para a "alternativa política" que o partido está a construir. Como dar resposta às pessoas.
"Como dar poder de compra às pessoas? Como é que vamos erradicar as listas de espera para cirurgias, consultas? Como vamos dar esperança e dignidade à carreira docente?", foram algumas das linhas de Montenegro para essa "alternativa política".
Como vem sendo hábito, o líder do PSD não mexe um milímetro em relação ao que vem dizendo. Não pede eleições antecipadas, não diz que quer ver o Governo demitido, não se referiu uma única vez ao Presidente da República.
Mas é a Marcelo Rebelo de Sousa que Montenegro dá o recado: "mais cedo do que era suposto" o partido está "cada vez mais focado em construir uma alternativa política". E outro recado. Este PSD, ao contrário do PS e do Governo "tem equipa", reforçando que no partido todos estão "a remar para o mesmo lado, estamos unidos para o combate que temos na frente".
Num evento dedicado às autarquias, Luís Montenegro lançou ainda um desafio à maioria absoluta do PS numa altura em que a revisão constitucional está aberta no Parlamento. Que deixe inscrever na Lei Fundamental a inscrição do Conselho de Coesão Territorial.
"O PS corre o país e ergue a voz pela coesão territorial. Tem agora oportunidade de concretizar essa paixão pela coesão territorial e aceitar essa proposta", desafiou o líder do PSD.
No partido admite-se à Renascença que já "cheira a poder", perante a crise política instalada há meses, é tempo para reunir o estado-maior, a pretexto do "futuro" do poder local, que irá encerrar com a intervenção do antigo líder do PSD Aníbal Cavaco Silva e descrito pelo presidente dos Autarcas Social Democratas, Helder Sousa Silva, como o "o melhor entre os melhores primeiros-ministros" do país.
Cavaco Silva é a estrela principal de um evento que conta ainda com o presidente da Câmara do Porto Rui Moreira e do autarca de Oeiras, Isaltino Morais, que foi recebido em glória pela plateia social-democrata com aplausos e gritos.