O presidente do Hospital Garcia de Orta informou este sábado que a urgência pediátrica deve normalizar "daqui a seis meses", depois do lançamento de dois concursos, mostrando-se solidário com os utentes que protestaram contra o encerramento do serviço.
"A nossa expectativa é que daqui a seis meses, no máximo, após os dois concursos que irão decorrer, que a situação comece a normalizar", adiantou Luís Amaro, em declarações à agência Lusa.
Por este motivo, enquanto não há uma solução definitiva, o presidente do conselho de administração admitiu que "é um risco evidente" que a urgência pediátrica possa voltar a encerrar nos próximos meses.
O serviço está encerrado durante este fim de semana, o que acontece pela quarta vez em outubro, devido à falta de especialistas, uma vez que, em 28 médicos, apenas sete trabalham na urgência e só quatro fazem noites porque têm menos do que 55 anos.
Estava previsto um protocolo com a União das Misericórdias Portuguesas para solucionar a carência a curto prazo, que consistia em trazer pediatras do norte do país, mas, segundo o presidente do conselho de administração, não se deverá concretizar.
"Temo que não haja hipótese de que a Misericórdia nos consiga ajudar, porque ficou esgotada a possibilidade de virem pediatras do norte do país, porque, de facto, não há pediatras", explicou.
O hospital está a contar com a colaboração de especialistas dos hospitais de Lisboa e do Barreiro, mas a maior esperança para resolver o problema são as vagas atribuídas pelo Ministério da Saúde, que aprovou a contratação direta de três profissionais e lançará, em breve, um novo concurso.
Ainda assim, segundo Luís Amaro, o "serviço vai ter que se restruturar internamente" e proporcionar "melhores condições e projetos inovadores para conseguir cativar e fixar as pessoas".
Já em 16 de outubro, em entrevista à Lusa, o responsável tinha referido que a reposição total dos profissionais ao serviço só será concluída a "médio prazo", porque como não há pediatras, o hospital vai ter de "esperar que se formem" e arranjar "estratégias de cativação" para que queiram ficar.
Luís Amaro também se mostrou solidário com as mais de 100 pessoas que se manifestaram hoje à porta do Garcia de Orta, contra o encerramento da urgência, tendo afirmado que "a preocupação do conselho de administração é resolver o mais rapidamente possível a situação que está neste momento a acontecer".
Segundo José Lourenço, da Comissão de Utentes da Saúde do Seixal, que convocou o protesto, a administração hospitalar "está de pés e mãos atadas", cabendo ao Ministério da Saúde a resolução do problema.
No entanto, Luís Amaro garantiu que o Ministério da Saúde "tem apoiado" o hospital, tendo atribuído vagas nos concursos anteriores e que "têm de ser todos" a contribuir para "mudar todo este drama", incluindo "o Governo, o próprio conselho de administração e o serviço".
Já o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses criticou que o hospital tenha indicado os centros de saúde como alternativa quando a urgência está fechada, mas o presidente frisou que "tem sido inestimável" o apoio dado pelos cuidados de saúde primários.
"Não substitui obviamente, os médicos de medicina geral e familiar, não são pediatras, mas têm um conhecimento profundo infantil e trabalham todos os dias com crianças e as suas famílias", referiu.
Segundo um estudo do Garcia de Orta sobre a procura inadequada às urgências, 73% das crianças que recorreram a este serviço, entre janeiro e agosto estavam em situação "sem gravidade", ou seja, casos em que se poderia acorrer aos cuidados de saúde primários.
Na sexta-feira, o hospital informou que a urgência iria voltar a encerrar durante este fim de semana, até as 08h30 de segunda-feira, porque, "apesar dos esforços realizados", a parceria com a União das Misericórdias "não se concretizou".
Esta situação também ocorreu no fim de semana passado, entre 18 e 21 de outubro, assim como nas noites de 12 e 14 de outubro.
A falta de pediatras no Garcia de Orta já afeta o hospital há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais e, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar a carência porque "ninguém concorreu".