No discurso aos jovens, esta quinta-feira, Francisco relembrou aos universitários que o Ensino Superior continua a ser um "privilégio e responsabilidade" e citou algumas figuras da cultura portuguesa para apelar aos jovens que sejam protagonistas de uma "urgência dramática de cuidar da casa comum" e recordou que um título de estudo "não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais avançada", afirmou.
O Papa falou ainda da economia, considerando “interessante” que, na nova cátedra dedicada à Economia de Francisco (São Francisco de Assis), anunciada esta quinta-feira pela reitora da universidade, tenham incluído Santa Clara de Assis.
“De facto, o contributo feminino é indispensável. No consciente coletivo quantas vezes pensamos que as mulheres são de segunda, são suplentes, não jogam a titular. E isso existe no consciente coletivo”, afirmou.
“Na Bíblia, vê-se como a economia familiar está em grande parte na mão da mulher”, pois com a sua sabedoria, ela é a “verdadeira governante da casa, que não tem como objetivo exclusivamente o lucro, mas o cuidado, a convivência, o bem-estar físico e espiritual de todos, bem como a partilha com os pobres e os estrangeiros”.
“É entusiasmante abordar os estudos económicos com esta perspetiva, tendo em vista devolver à economia a dignidade que lhe corresponde, para que não caia no mercado selvagem e da especulação”, acrescentou.
O Papa referiu ainda a “iniciativa do Pacto Educativo Global e os sete princípios da sua arquitetura”, que “incluem muitos desses temas, desde o cuidado da casa comum à plena participação das mulheres, à necessidade de encontrar novas formas de entender a economia, a política, o crescimento e o progresso” e convidou todos “a estudar o Pacto Educativo Global” e a apaixonarem-se por ele, destacando que um dos pontos de que trata é "a educação para o acolhimento e a inclusão".
Antonella Sciarrone, subsecretária do Dicastério para a Cultura e Educação, já tinha antecipado que o encontro, desta quinta-feira, entre oPapa Francisco e estudantes na Universidade Católica Portuguesa seria “um momento cheio de significado para todo o mundo da educação”, salientando que “os jovens não são recetores passivos do processo de aprendizagem, mas são verdadeiros protagonistas das relações educativas”.
Segundo adiantou Sciarrone, a Universidade Católica tem vindo a desenvolver uma série de iniciativas, incluindo debates sobre “como alimentar esta casa”, das quais saíram propostas concretas que foram apresentadas esta quinta-feira ao Papa Francisco – como o “grande investimento na investigação”, preservar espaços verdes nos campus universitários, a substituição do plástico e adoção de estilos de vida mais sóbrios.
O que é afinal o Pacto Educativo Global?
A 12 de setembro de 2019, o Papa Francisco lançou um convite para dialogar sobre o modo “como estamos a construir o futuro do planeta e sobre a necessidade de investir nos talentos de todos”, defendendo que todas as mudanças precisam de um “caminho educativo para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora”.
Para tal, o Papa promoveu a iniciativa de um Pacto Educativo Global “para reavivar o compromisso com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”. Um dos objetivos deste pacto é “unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar a fragmentação e a oposição e reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna”.
Torna-se assim necessário, segundo Francisco, construir uma “aldeia da educação”, onde, “na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas”, para que seja mais fácil mais fácil “encontrar a convergência global para uma educação que saiba fazer-se portadora duma aliança entre todos os componentes da pessoa” e “uma aliança entre os habitantes da terra e a «casa comum», à qual devemos cuidado e respeito”, “uma aliança geradora de paz, justiça e aceitação entre todos os povos da família humana, bem como de diálogo entre as religiões”.
Numa mensagem em vídeo a 15 de Outubro de 2020, o Papa Francisco afirmou esperar uma nova época de compromisso educativo que envolva todos os componentes da sociedade e convidava todas as pessoas, instituições, igrejas e governos priorizem uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade.
O Dicastério para a Cultura e a Educação decidiu aproveitar a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa para relançar o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco e que visa envolver todos os protagonistas num debate sobre o futuro do planeta.
Quais são os compromissos deste Pacto?
- Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo;
- Ouvir as gerações mais novas;
- Promover e reconhecer os direitos das mulheres e a igualdade e favorecer a sua participação na educação;
- Responsabilizar a família no processo da educação;
- Educar para o acolhimento, incluindo os mais vulneráveis e marginalizados;
- Renovar a economia e a política.
- Cuidar da casa comum - protegendo os seus recursos, adotando estilos de vida mais sóbrios e visando energias renováveis e respeitosas do meio ambiente.