Foi com um forte apelo à convergência para o bom uso dos fundos europeus que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quis marcar o Dia de Portugal que este ano foi celebrado no Funchal.
“É necessário ter nestes anos um forte apelo à convergência para aproveitar recursos, recriar espirito novo de futuro para todos e não uma chuva de benesses para alguns”, afirmou o Presidente, para quem é absolutamente necessário não desperdiçar os fundos europeus que vão chegar ao contrário do que aconteceu várias vezes durante os séculos com o ouro, a prata, as especiarias e alguns pacotes de ajuda europeia.
“Esta terra exige mais de nós. Que não o esqueçamos nos próximos anos, não nos limitando a remendar tecido social ferido pela pandemia; reconstruamos esse tecido a pensar em 2030, 2040, 2050. É necessário agir em conjunto, com organização, transparência eficácia, responsabilidade, resultados duradouros. Que tudo o façamos para o conseguir”, exortou Marcelo, num discurso acompanhado de palmas por várias ocasiões.
Mais atenção aos migrantes e aos oceanos
Com um cenário e circunstâncias muito diferentes das comemorações do ano passado, quando só oito personalidades estiveram na cerimónia que decorreu no Mosteiro dos Jerónimos, o Presidente quis dar o sinal de que se está “quase no fim de uma pandemia tão longa e dolorosa” e transmitir uma mensagem de esperança e de cuidado com o futuro.
Quis, ainda assim, voltar a prestar homenagem aos profissionais de saúde e às Forças Armadas pelos serviços prestados no combate à pandemia. E anunciou para breve também um reconhecimento às forças de segurança.
“Estes quase dois anos em que a pandemia surgiu e tudo ou quase tudo suspendeu, atropelou, atingiu” deixaram marcas e expuseram debilidades. Mas, continuou Marcelo, “não são as imensidades destes desafios que nos vão afastar do nosso futuro. Que se desenganem os profetas da nossa decadência ou da nossa finitude.”
E daí partiu para os desafios dos oceanos. “O mar exige mais de nós, que o saibamos reforçar em palavras, mas também em obras”, afirmou o Presidente, pedindo um reforço urgente na estratégia para os oceanos. Para Marcelo, é importante que a Conferência para os Oceanos, que Portugal recebe no próximo ano, seja “um marco” no caminho já percorrido por anteriores Presidentes e Governos.
“Este 10 de Junho convida-nos a sermos melhores nesse desafio fundamental para a nossa presença no mundo”, afirmou o Presidente, que também quis deixar neste Dia de Portugal celebrado na Madeira um apelo a uma maior ligação com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
E uma das formas para reforçar essa ligação é aumentar a facilidade de voto, nomeadamente nas eleições presidenciais para que deixe de ser necessário “percorrer milhares de quilómetros” para exercer esse direito que até já chegou a ser negado.
Para Marcelo, é preciso “ultrapassar um estranho complexo” que ainda domina tantos portugueses apesar de não haver um só que não conheça uma família que tenha emigrantes – complexo esse que tem levado a recusar “em converter essa realidade em prioridade nacional, em vez de ser um acaso, uma saudade esbatida pelas férias, um aceno simbólico de discurso”.
“Que continuemos a ultrapassar e ultrapassemos em definitivo esse esquecimento”, pediu Marcelo, passando para o outro lado das migrações, a dos imigrantes que garantem a Portugal a natalidade e os serviços básicos de que o país precisa.
“Ainda mais aposta no mar, ainda mais vontade de não desperdiçar um cêntimo que chegue à nossa terra, ainda mais sentido nacional lembrando e apoiando os nossos compatriotas que vivem no nosso território espiritual, na nossa alma que é muito maior que o nosso território físico; ainda mais sentido humano a receber os nossos irmãos de nacionalidade que nos chegam por uns tempos bem com os não portugueses, uns e outros tantas vezes esquecidos nesse mundo subterrâneo que serve à nossa vida”, resumiu o Presidente, concentrando o seu discurso numa frase.
As cerimónias do Dia de Portugal deveriam ter-se realizado na Madeira no ano passado, mas a pandemia levou a que Marcelo Rebelo de Sousa alterasse os planos e discursasse em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos.
Neste ano, foi possível concretizar os planos e o Presidente da República foi até ao Funchal, onde a cerimónia decorre na Praça da Autonomia e na Avenida do Mar e começou com uma homenagem aos mortos.